Abraço não é conservação: a exploração dos silvestres por curtidas

A exploração de animais silvestres pelos circos tradicionais foi eliminada do Brasil. Graças às ações de fiscalização do Ibama, hoje não precisamos suportar a tortura e sofrimento animal nos picadeiros.

Mas a internet é o novo picadeiro e o ingresso são as curtidas ou o aumento do número de seguidores ou, ainda, de forma mais direta, a apresentação do pix ou outras formas de monetização. Muitas pessoas são interessantes por si só e outras produzem conteúdo autêntico e importante. Mas tem vicejado um segmento que, na ausência de conteúdos relevantes, apostam na exploração animal para conquistar suas curtidas e angariar seguidores.

Essas pessoas exploram os silvestres com esse objetivo, desconsiderando todo e qualquer aspecto de conservação e comportamento. Elas os vestem com roupinhas, os abraçam, beijam e até colocam presas e predadores juntos.

Essa exposição em nada ajuda a conservação da espécie pois apresenta os animais como bibelôs domésticos e, também, não respeita o comportamento natural e necessidades daqueles indivíduos. O que acontece por trás do celular, nos bastidores, quando o animal não está sendo útil é outra preocupação.

Na esteira de likes dos animais fofinhos, pessoas se dedicam a ser influenciadores digitais explorando animais. Os seguidores em geral não percebem essa exploração e compram a ideia de bem-estar e, muitas vezes, de um trabalho de conservação.

Animais silvestres são interessantes? Sim. Alguns são fofos? São também. Quem trabalha com eles têm a oportunidade de contato e, muitas vezes, precisa se conter para não agir “como Felícia” (personagem que abraça até quase esmagar os animais). Ao longo de anos de trabalho haverá interação eventual, mas esse não pode ser o objetivo. É emblemático o vídeo da soltura de um chimpanzé que retorna para abraçar a famosa pesquisadora Jane Goodall, bom como a cena do leão Christian com os homens que o criaram.

Mas a questão principal é o objetivo. Devemos sempre ter em mente que o objetivo é o melhor para o animal e sua espécie. Não é conseguir mais seguidores ou mais curtidas.

O objetivo não é explorar o animal. É a conservação, que se faz com um trabalho profissional sério, não com abraços em animais ou outras interações. Assim, quando vir vídeos na internet, seja crítico e sempre busque definir se você está diante de um trabalho sério ou apenas uma nova forma de circo, tortura e exploração, que é paga com suas curtidas ou seu pix.

O texto reflete posição pessoal e não, necessariamente, institucional.

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SILVESTRES, o podcast do Fauna News

O recente caso do macaco-prego que teria mordido a testa da cantora de funk MC Mirella voltou a ressaltar o problema da criação de primatas como bichos de estimação. O animal foi comprado pela artista em 2020 em um criadouro legalizado. A Sociedade Brasileira de Primatologia, entidade que reúne cientistas, é categórica ao afirmar que macacos sofrem quando são criados como pets e que a exposição deles como bichos de estimação em vídeos e fotos, como muitos artistas fazem, estimula o tráfico de fauna.

No quadro “Fala, Professor!”, o entomólogo e pesquisador Elidiomar Ribeiro da Silva comenta sobre a reclamação de moradores do Rio de Janeiro das picadas de um pequeno inseto chamado cigarrinha.

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