A soltura de animais apreendidos deve ser a primeira opção

Muita gente já sabe que o Brasil é um país com a maior biodiversidade do mundo. Mas poucos sabem que o país também apresenta o maior número de espécies ameaçadas de extinção. A perda de hábitat é a maior causa, entretanto, a retirada constante de animais destinada ao tráfico de fauna silvestre causa a redução e a extinção local de diversas populações naturais, como é o caso do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva).

As ações de combate e repressão ao tráfico ainda não são suficientes e os poucos animais que são recuperados, apreendidos, resgatados ou entregues pela população precisam ser destinados. Para isso, existem somente três alternativas:

• retorno à natureza por meio de programas de solturas, reintrodução, relocação ou revigoramento populacional;
• cativeiro;
• eutanásia.

Voltar à natureza tem que ser sempre a primeira opção, cumprindo-se a legislação ambiental. Dessa forma, tenta-se restaurar os processos ecológicos, como a polinização, dispersão de sementes, controle de pragas, etc.

Entretanto, para que a ação seja exitosa, o manejo, a reabilitação e a soltura dos animais precisam ser feitos com os devidos cuidados. É importante frisar que o fato de animais serem criados sob cuidados humanos em ambiente de cativeiro domiciliar, como os psitacídeos, não significa que eles nunca mais poderão retornar à natureza. Se houver condições mínimas para que possam interagir com outros de sua espécie e expressar seu comportamento natural, eles devem ser encaminhados prioritariamente a programas de reabilitação e, caso sejam considerados aptos, retornar à vida livre.

Preparação para a soltura de fauna

Quando os espécimes chegam aos centros de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras), eles serão identificados, avaliados fisicamente e recebem uma marcação de identificação individual – anilhas, no caso das aves. Passarão também por exames para verificar seu estado de saúde e não transmitir doenças para os animais de vida livre. A partir daí, será decidido o encaminhamento para reabilitação e, posteriormente, para a soltura.

A reabilitação é um processo importantíssimo para o êxito da soltura. É a última etapa do processo e temos que considerar seu comportamento, sua capacidade de voo, identificação de alimentos que irão encontrar na natureza, o medo de predadores (tanto selvagens como domésticos, como cães e gatos) e também de humanos. O treinamento poderá durar alguns meses ou até mesmo anos, principalmente para os psitacídeos. É importante que formem grupos sociais, pois dessa forma, eles terão mais chances de sobreviver na natureza.

Para realizar uma soltura, são feitas pesquisas prévias, como o levantamento e o monitoramento da fauna e da flora da região. Em muitos casos, é feita a recuperação do hábitat nas áreas onde os animais serão soltos.

Os locais para solturas, em geral, são propriedades privadas e áreas protegidas, pois se reduz a invasão por traficantes de animais. Por isso, o monitoramento pós-soltura é muito importante, pois além de trazer dados para pesquisas, também pode identificar as causas dos desaparecimentos dos indivíduos soltos.

Tipos de solturas de animais

Existem duas maneiras de ser feita a soltura.

A soltura branda (do inglês soft release), em que os animais passam dos centros de reabilitação para as áreas de solturas e permanecem em viveiros de aclimatação por um período. Após a aclimatação, o recinto é aberto e os animais têm a liberdade de saírem e voltarem quando quiserem. A partir desse momento, a alimentação é oferecida do lado de fora, garantindo um suporte até estarem totalmente ambientados na natureza e começarem a se dispersar.

A outra maneira de realizar soltura é a soltura direta, em que não são usados recintos de aclimatação e não há suporte alimentar. Essa modalidade é usada para animais que vieram de ambiente natural e que estiveram pouco tempo em cativeiro – o suficiente para avaliar a saúde e condição física da espécie. Na maioria dos casos, envolve animais capturados em condições de risco em áreas urbanas ou fauna apreendida logo após a captura na natureza.

Muitas solturas de animais silvestres foram realizadas de maneira errônea no passado e ainda continuam sendo feitas, como vemos na mídia. Um exemplo recente foi o caso da serpente exótica píton solta na floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. Porém, é importante frisar que isso não invalida a necessidade de devolver os animais silvestres à natureza.

Os projetos de solturas, além de devolver animais para seu hábitat, trazem um conjunto de benefícios na restauração de processos ecológicos, na educação ambiental e geram conhecimento e pesquisa que contribuem para a conservação ambiental como um todo, beneficiando inclusive o bem-estar dos seres humanos.

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