A Saúde Única e o fim do mundo

Nunca se falou tanto no fim do mundo desde Nostradamus: “Chuva, sangue, leite, fome, aço e peste, é o fogo do céu visto, uma longa faísca correndo.”

Esse mês, a superfície do mar atingiu 21,09º C e foi o fevereiro mais quente globalmente registrado. As mudanças climáticas fazem parte da história do planeta Terra, porém nossa fome por combustíveis fósseis e algumas atividades humanas, como a intensificação da agricultura e o desmatamento, aceleraram incrivelmente esse processo. O mundo urge por soluções rápidas e eficientes para aplacar os já sentidos efeitos das mudanças climáticas e da nossa “pegada antrópica”, que tanto aqueceu, extinguiu espécies e sobrecarregou o planeta – renomeando uma era geológica.

As ameaças à saúde pública são parte das consequências das mudanças climáticas. Entre as estratégias para mitigação desse aspecto, a Saúde Única é mencionada.

Afinal, o que é esta Saúde Única?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a Saúde Única como uma abordagem interdisciplinar para estudar problemas de saúde em humanos, em animais e no meio ambiente em que eles se inserem. Sua estrutura conceitual é sustentada por cinco pilares:

• segurança alimentar;
• resistência a antimicrobianos;
• ligação entre humanos e animais;
• contaminação da água e
• zoonoses.

A Saúde Única necessita da integração de diferentes disciplinas e profissionais para o enfrentamento de problemas e apresentação de estratégias de mitigação (resolução).

Quero voltar a atenção deste texto para um dos pilares conceituais da Saúde Única: as zoonoses.

As zoonoses são as doenças transmitidas por qualquer animal vertebrado aos humanos e vice e versa. As zoonoses podem ser endêmicas, epidêmicas e emergentes ou reemergentes. Mas qual a relação das mudanças climáticas com zoonoses?

As mudanças climáticas favorecem a emergência de novas zoonoses, como também a reemergência de outras já conhecidas. O mecanismo pelo qual isso pode acontecer se debruça nas relações entre reservatórios, vetores, patógenos e na própria mudança na dinâmica entre eles. Essa dinâmica se altera ainda mais com o desmatamento, que causa enorme impacto na biodiversidade, colocando espécies diferentes em contato e causando extinção local de algumas outras.

O grande desafio agora é a aplicação da Saúde Única como ferramenta interdisciplinar importante e reconhecida e fazer diferentes setores entenderem que matando Gaia, matamos a nós mesmos.