Por Silvana Davino
Bióloga e responsável técnica da Área de Soltura Monitorada (ASM) Cambaquara, em Ilhabela (SP)
segundachance@faunanews.com.br
As áreas de solturas têm com objetivo devolver os animais silvestres de volta à natureza após a reabilitação deles. É a última etapa de um processo em que muitas aves não chegam por causa dos traumas de colisão e de baixa taxa de recuperação.
O número de casos de colisão com vidros no Brasil tem aumentado drasticamente devido ao número de construções de edifícios espelhados, muros de vidros e das grandes janelas envidraçadas. Dados da Birdlife International mostram que somente nos Estados Unidos, a morte de aves por colisão pode chegar a um bilhão por ano! Número assustador e alarmante! Aqui no Brasil não temos pesquisas detalhadas sobre o tema, porém é notável a quantidade de aves que chegam aos centros de reabilitação vítimas desse tipo de problema.
Diferentemente do que se poderia imaginar, as colisões acontecem em prédios baixos ou casas de dois andares.
Em Ilhabela (SP), onde a àrea de Soltura Monitorada Cambaquara atua, as vítimas de colisão têm aumentado muito. Nunca recebemos tantos papagaio-moleiro, tucanos e outras espécies com fraturas de asa, coluna ou bico, papo estourado ou traumatismos cranianos. Por volta de 70% morrem e o restante nem sempre se recupera para retornar à natureza. Uma realidade preocupante, que podemos evitar com pequenas atitudes.
Como evitar colisão de aves com vidros
Há vários estudos feitos, principalmente pela American Bird Conservancy, em que soluções práticas são indicadas para minimizar esses traumas, tornando as construções “amigas das aves” ou “bird-friendly”, como foi denominada.
Aquela ideia de colar algumas silhuetas de gavião já foi comprovada que não funciona. Essas imagens não assustam as aves. Importante lembrar que elas enxergam o espectro ultravioleta e não conseguem perceber os vidros.
Muitas, veem o reflexo do céu e das árvores como sendo uma continuidade da paisagem ou simplesmente consideram a imagem refletiva como um vão livre. Ou seja, a única coisa que temos que fazer é fazê-los enxergar os vidros!
Para isso, existem películas prontas com essa finalidade; vidros com tratamento UV, em que as aves enxergam como se fosse uma teia de aranha e nós, humanos, vemos um vidro liso; há adesivos de bolinhas, listras, desenhos e reticulados; e podemos fazer linhas com canetas resistentes às intempéries, colocar telas, etc. Qualquer técnica irá funcionar desde que a distância entre as marcas seja entre cinco a dez centímetros.
Cada técnica tem custos e resultados diferentes e seguramente alguma irá combinar com seu estilo e bolso. Escutar o estrondo ou encontrar uma ave após uma colisão é uma experiência muito impactante e triste. Para mudar esse contexto, é preciso engajar profissionais ligados à construção civil a incorporarem em seus projetos essas técnicas e cobrar do poder público a promoção de diretrizes para atingir diminuir o risco de colisão em vidros. Em nossas residências também podemos adaptar essas técnicas e ajudar a preservar as aves que, além de suas belezas de cores e cantos, cumprem papéis ecológicos muito importantes.
Abaixo, mais informações sobre o tema para ajudar você a escolher uma solução que melhor se adapte às suas necessidades.
– Conexão Planeta
– Americna Bird Conservancy 1
– Americna Bird Conservancy 2
– Vogelwarte
– Revista Ilhabela
– Birdwatching Daily
– Flap
– Película Chic
– Leia outros artigos da coluna SEGUNDA CHANCE
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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