Casal que há mais de 30 anos viaja até os lugares mais remotos do Brasil para fotografar a natureza. São adeptos da ciência cidadã, ou seja, do registro e fornecimento de dados e informações para a geração de conhecimento científico
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Em um mês de festas, deixamos para contar a história de um lugar onde a nossa criança interna pulsa de alegria, como se estivesse ganhando um presente da Mãe Natureza.
Vamos conhecer um pouco de uma pequena cidade paulista: Tapiraí. Ela fica próxima a Sorocaba e tem parte no Vale do Ribeira. Uma característica muito importante de Tapiraí é sua enorme área de Mata Atlântica, tendo 80% do território tombado como Área de Proteção Ambiental. Por estar próximo da cidade de São Paulo e pelo fato de possuir muitas cachoeiras e muito verde, o município tem um grande potencial turístico. Há muitos anos, é um local muito conhecido e frequentado pelos observadores de aves, que lá já registraram 373 espécies no site WikiAves.
Em Tapiraí, um lugar que é pura magia e que merece ser visitado é a pousada Trilha dos Tucanos.
No meio da Mata Atlântica, os proprietários Marco e Patrícia construíram uma pousada muito aconchegante, com algumas suítes e um refeitório na casa principal.
E é aí que vem a grande surpresa: ao lado do refeitório tem dois comedouros para aves que são frequentados por bandos de várias espécies. O colorido das diferentes espécies aliado aos diferentes sons emitidos criam um cenário lindo e difícil de ser expressado com palavras.
Um comedouro mágico para as aves
Comedouros com diversas espécies são comuns em muitos lugares, contudo na Trilha dos Tucanos as aves se sentem seguras e, parecendo perceber a alegria e o amor daqueles que as estão observando, permitem uma aproximação das pessoas que não vimos em qualquer outro lugar. Para o deleite dos observadores e visitantes, é só segurar uma banana e, como num passe de mágica, vários pássaros pousam em sua mão para se alimentar. A surpresa é ainda maior, pois estamos falando de aves como a saíra-sete-cores, bico-de-pimenta, periquito-rico, tiriba-de-testa-vermelha e, pasmem, até o araçari-banana e o araçari-poca – aves não tão fáceis de serem observadas na mata que vem comer em sua mão, deixando os visitantes em estado de graça.
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Além das espécies já citadas, o comedouro também é frequentado por tietinga, catirumbava, tucano-de-bico-verde, pica-pau-de-cabeça-amarela e benedito-de-testa-amarela.
Não existe uma explicação para esse fenômeno. Marco, o proprietário da pousada, acha que por ter o comedouro há muitos anos, diversas gerações de aves já vieram se alimentar e, percebendo que nunca foram ameaçadas, acabaram por adquirir confiança.
Importante destacar que essas aves não são dependentes da alimentação dos comedouros. Essas visitas para alimentação só ocorrem no inverno, quando a oferta de comida na mata é menor. Assim que a mata passa a ter maior oferta de alimentos, as aves vão gradativamente desaparecendo dos comedouros, sendo que algumas, como os araçaris-poca, retornam somente no próximo inverno.
Surpresas em frente e no entorno da pousada
Mesmo sem entrar nas trilhas, em frente e no entorno da pousada, fizemos registros de várias espécies interessantes de gaviões: o gavião-pega-macaco, o gavião-pato, o gavião-pombo-grande, o gavião-de-penacho e o gavião-de-cabeça-cinza. Nós e vários observadores já registramos o difícil pica-pau-cara-canela a poucos metros da pousada.
Na frente da pousada existem vários pés de palmeira-juçara que oferecem um banquete para as aves na época da frutificação. Já observamos nessas juçaras o tropeiro-da-serra, a sabiá-coleira e a sabiá-una, mas a visita ilustre nessa época é, sem dúvida, a bela jacutinga, que está em perigo de extinção e é muito difícil de ser encontrada na natureza. Ela passa um bom tempo se alimentando e presenteando os fotógrafos de plantão.
Trilhas e seus presentes
A Trilha dos Tucanos não é só comedouro. Existem várias trilhas para caminhadas e observação de aves e da natureza. Em cada uma dessas trilhas já fomos presenteados com diferentes espécies.
Uma das trilhas é paralela a uma pequena corredeira d’agua e por vários anos a maria-leque-do-sudeste, uma das preciosidades de nossa biodiversidade, já fez seu ninho lá.
Em outra trilha, fizemos o nosso melhor registro da coruja caburé-miudinho, que pousou no limpo a poucos metros de nós e lá permaneceu na altura de nossos olhos por mais de meia hora.
Em uma das trilhas tem um abrigo camuflado e ali, no amanhecer, podemos ficar escondidos observando algumas espécies de aves, como a juriti-gemedeira, pariri, o inhambuguacu, a pomba-amargosa, o uru e a juriti-pupu.
Vale a pena explorar todas as trilhas. É certeza que vamos nos deparar com muitas aves no caminho e até com alguns mamíferos, como o veado-mateiro e a irara, que também visita a sede com frequência na busca de alimento.
O Segredo
Em nossa opinião, o segredo para essa comunhão com as aves e os mamíferos não está nos comedores e tão pouco nas trilhas. O segredo está no amor incondicional que os proprietários passam para as aves e os demais animais nesse pequeno tesouro da Mata Atlântica.
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