Por Vitor Calandrini
Primeiro-tenente da PM Ambiental de São Paulo, onde atua como chefe do Setor de Monitoramento do Comando de Policiamento Ambiental. É mestrando no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP
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Todos os anos, inicia-se no final de setembro a época mais esperada pela fauna e flora: a primavera. Período em que as chuvas voltam a despontar no horizonte, os dias ficam mais longos e a exuberância do verde reaparece em nossos campos, o que, infelizmente, redunda em outro fomento: o do tráfico de animais. É exatamente nesse período que muitos animais se acasalam e dão à luz a seus filhotes.
A época da procriação de animais é, sem dúvidas, aquela de maior atenção aos órgãos de fiscalização e controle de fauna silvestre. E não somente por sua maior oferta, mas também porque é o período em que pode haver tentativas de fraudes visando a legalização de animais advindos do tráfico. Achei interessante trazer, neste mês, esta questão para discussão.
O tráfico de animais ocorre o ano todo? A resposta é sim. Mas então por que o período de maior oferta de filhotes é o que mais chama a atenção? É porque, exatamente nessa época, que podemos ter a introdução de animais ilegais no comércio legalizado, seja pelos criadores amadoristas seja nas lojas que comercializam produtos da fauna (pet shops).
É claro que não podemos generalizar que todos os criadores amadoristas de passeriformes, por exemplo, cometem ilegalidades. Mas nesse período abre-se uma janela para a legalização de animais traficados, uma vez que um criador de má fé pode solicitar anilhas (anéis colocados nas pernas das aves) para suas crias, com a intenção de usá-las para marcar animais retirados ilegalmente da natureza.
Essa tentativa de anilhamento até pode ser feita em outras épocas do ano, mas poderiam deixar marcas nos animais, como a falta ou fratura no dedo opositor das aves, ou ainda o estrangulamento da pata causado pelo anel. Tais problemas facilitam descobrir a fraude, que é muito difícil de identificar quando a ave ilegal é anilhada nos primeiros dias de vida.
Para combater esse tipo de fraude, o policiamento ambiental vem trabalhando junto com o Ibama no rastreio de possíveis atividades irregulares no sistema informatizado de criadores amadoristas de passeriformes (SisPass), visando identificar alterações de padrão nas informações lançadas pelos criadores, como tamanhos das ninhadas, de plantel, de idade das aves, de quantidades de solicitações de anilhas e de outros parâmetros que podem indicar irregularidades.
Frisa-se que somente nos oito primeiros meses deste ano foram apreendidos pelo policiamento militar ambiental mais de 14 mil animais silvestres. Muitas dessas ações decorreram dessas atividades com emprego de inteligência operacional e de tecnologias empregadas nas atividades de campo.
É importante difundir que a integração entre órgãos governamentais e o uso de tecnologia vêm sendo utilizados para lutar contra o tráfico de animais no estado de São Paulo e que permaneceremos, na primavera, de olhos atentos para combater essa que é uma das maiores causas de perda de biodiversidade no mundo.
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