![Recifes artificais com peixes nadando por perto](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2020/07/recifes-artificias-robin-hilbert-loose.jpg)
Agrônomo e mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos. É coordenador geral do Programa Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar) da Associação MarBrasil e professor na pós-graduação em Biologia Marinha pela Universidade Espírita (PR)
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Recifes marinhos naturais são estruturas constituídas de arenito, resultantes da consolidação de antigas praias, ou de formações coralíneas provenientes do acúmulo de carapaças de animais marinhos associados a crostas de algas calcárias ou de rochas naturais ou vulcânicas. Os recifes são importantes nos ambientes marinhos por oferecerem refúgio e local de reprodução e alimentação de organismos que se associam ao substrato, dando suporte e proteção à grande abundância de algas, invertebrados e peixes.
Os recifes artificiais marinhos, segundo o “European Artificial Reef Network” (EARRN), são definidos como estruturas dispostas deliberadamente no assoalho oceânico com o intuito de imitar ou simular algumas características de um recife natural. Podemos definir os recifes artificiais como um ou mais objetos de origem natural ou humana assentadas propositadamente sobre o fundo oceânico para influenciar processos físicos, biológicos ou socioeconômicos relacionados a recursos marinhos vivos. Eles representam uma tecnologia acessível e que pode ser utilizada para modificar ecossistemas aquáticos para a recuperação da biodiversidade marinha, muitas vezes impactada pela pesca de arrasto, que é altamente predatória e danosa ao ambiente marinho.
No sul do Brasil, no litoral paranaense, foi criado por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1997 o maior projeto de recifes artificiais do país, o Projeto RAM (Recifes Artificiais Marinhos), com a instalação de mais de duas mil estruturas de concreto modulares que servem de refúgio e área de reprodução e alimentação de centenas de espécies marinhas, algumas delas ameaçadas de extinção, como o mero (Epinephelus itajara).
O sucesso desse projeto motivou pesquisadores da Associação MarBrasil (instituição de pesquisa fundada pelos idealizadores do Programa RAM) a criar, em 2008, o então projeto de recifes artificiais mais premiado do país, o Projeto Rebimar (Recuperação da Biodiversidade Marinha).
O Projeto Rebimar, que recebeu os prêmios de Objetivos do Milênio (ODM Brasil) e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS – vida na água), executado pela Associação MarBrasil, instalou na costa paranaense 5.500 estruturas de concreto, conhecidas como RRLs, recifes de recrutamento larval.
![Mapa com Local de instalação das 5.500 estruturas artificiais](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2020/07/recifes-artificias-robin-hilbert-loose-3-880x1024.jpg)
Essa ação, que tem mais de 10 anos de esforços de dezenas de pesquisadores e patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental, trouxe um incremento ambiental e social em uma área altamente degrada pela pesca de arrasto. Foi criado um corredor ecológico marinho com extensão de 12 quilômetros e com uma área de mais de 15 mil hectares de proteção contra atividades impactantes, trazendo a recuperação de espécies degradadas pela exploração da pesca predatória e servindo também para a reprodução de peixes, invertebrados e crustáceos.
Os blocos de concreto, com desenho de trevo no interior (para uma maior superfície de incrustração), foram produzidos com cimento ecológico com seu ph corrigido para beneficiar rapidamente o crescimento e a agregação dos seres marinhos, importantes para a cadeia trófica e recuperação da biodiversidade. Cada bloco pesa 120 quilos e possui 0,5 m x 0,50 m de tamanho.
![blocos de concreto usados para formar os recifes artificias](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2020/07/recifes-artificias-robin-hilbert-loose-1.jpg)
O Projeto Rebimar foi o primeiro programa do Brasil a obter a licença ambiental do Ibama para a instalação de recifes artificiais marinhos. Para que isso acontecesse, foram necessários quatro anos de estudos científicos para viabilizar os trabalhos e, após a instalação, dois anos de monitoramento ambiental exigido pelo órgão licenciador.
O Rebimar trouxe dezenas de benefícios socioambientais e científicos, como o desenvolvimento de competência para licenciamento, instalação e monitoramento de estruturas artificiais para a conservação marinha brasileira, o desenvolvimento de recifes artificiais de maior efetividade para colonização marinha e de tecnologia eficiente e eficaz para recuperar a biodiversidade marinha impactada, a proteção de 15 mil hectares da pesca predatória em área berçário e de recrutamento de espécies da fauna marinha por meio de uma área de exclusão da pesca de arrasto.
Trouxe também benefícios diretos à 250 pescadores artesanais dos municípios de Pontal do Paraná, Matinhos e Guaratuba, parceiros do projeto, e indiretamente a 950 dos municípios de Guaratuba, Paranaguá e Guaraqueçaba, além de pescadores de pequena escala de 70 comunidades por meio do incremento de recursos pesqueiros.
O Projeto também obteve reconhecimento da comunidade local quanto ao ecossistema marinho onde residem, a suas riquezas e às demandas na busca de direitos e deveres sociais e ambientais relacionados à qualidade ambiental e de vida na região, assim como a recuperação da biodiversidade em área impactada pelo arrasto, com a ocorrência mínima de 148 espécies, entre peixes, crustáceos, moluscos, cnidários, esponjas entre outros.
![Mero nos recifes artificiais do Programa REBIMAR](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2020/07/mero-robert-hilbert-loose-1024x768.jpg)
Ações como essa promovem a recuperação e a conservação da biodiversidade marinha e do ambiente marinho, a recuperação dos estoques pesqueiros, o incremento da economia local por meio do turismo de mergulho e da pesca esportiva, a valorização da pesca artesanal, a visibilidade para o tema da conservação marinha, a geração e a disseminação de conhecimento e a geração de empregos.
Podemos afirmar que o sucesso obtido pode ser replicado em outras áreas impactadas da costa brasileira, desde que sejam feitos estudos prévios e se obtenha o licenciamento ambiental.
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