
Médica veterinária e agente da Polícia Federal com especialização em Polícia Ambiental
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Um balanço realizado pelo Linha Verde do Disque Denúncia do Estado do Rio de Janeiro, em 2019, apresentou um resultado muito significativo: entre as 12 mil denúncias de crimes ambientais, destacaram-se as de maus-tratos a animais, desmatamento florestal e guarda e comércio de animais silvestres.
Se formos pensar nesse número de denúncias, seria como se existissem 12 mil pessoas fiscalizando e auxiliando o trabalho policial. Não existe esse quantitativo de agentes públicos atuando exclusivamente no combate aos crimes ambientais. Portanto, se depender apenas da atuação de órgãos públicos, nem 10% desse total chegaria ao conhecimento das autoridades.
É o cidadão comum, durante sua rotina diária, que pode colaborar com os órgãos do governo. Por saber exatamente o que ocorre em seu bairro, em sua rua e vizinhança, é normalmente ele que tem conhecimento de algum morador agindo de forma suspeita. Assim, é esse cidadão que tem mais condições de levantar informações precisas, podendo filmar, fotografar, observar e até mesmo realizar um trabalho policial melhor que o próprio, pois consegue acompanhar diariamente a rotina de pessoas próximas.
Citarei uma operação policial que só foi possível ser executada porque houve a colaboração de um morador. Havia uma pessoa que, há muitos anos, capturava aves em uma reserva florestal próxima de sua residência com a finalidade de repassá-las a outro criminoso, que as revendia em feiras livres nas cidades. Essa captura se dava numa área rural, onde qualquer presença policial chamaria atenção. Fazer uma investigação nesse local, mesmo que velada, seria praticamente impossível.
Para que fosse configurado o flagrante, seria necessário que a residência do suspeito estivesse com o produto do crime. Com o intuito de coletar provas bastante consistentes, precisávamos saber quando é que esses animais estariam realmente no domicílio do infrator. Nesse sentido, uma informação de alguém próximo seria certamente muito importante.
De fato, o trabalho foi realizado com a ajuda de um morador da região, que estava inconformado com o comportamento do criminoso, dispondo-se, assim, a colaborar com a polícia. Essa pessoa ficou de acompanhar a movimentação e de avisar os agentes do dia em que houvesse grande quantidade de animais na residência do infrator. Na data do flagrante, conseguimos material suficiente para enquadrar o criminoso e, finalmente, prendê-lo.

Graças à ajuda desse cidadão, foi possível retirar de circulação um infrator que destruía o meio ambiente há muito anos.
Casos como esse ilustram, de forma inequívoca, a importância da participação da sociedade. Todos somos responsáveis pela segurança pública. A omissão só fortalece a criminalidade. Ao verificar atitudes suspeitas, não devemos deixar de informar os órgãos de segurança pública.
O cidadão tem à sua disposição diversos meios para denunciar infrações e, desse modo, colaborar com a polícia, podendo fazê-lo inclusive de forma anônima. Pode ser por telefone, pela internet ou até mesmo indo diretamente à delegacia. Quanto mais informações fornecer, melhor: fotos, vídeos, testemunhas ou quaisquer outros registros são muito importantes para o processo de investigação.
Toda informação que ajude a polícia em sua missão de investigar e reprimir atos ilícitos é sempre importante, relevante e, muitas vezes, decisiva para a elucidação de crimes e, consequentemente, para a punição de todos que descumprem a lei.
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