A guerra dos rinocerontes: e a vida está perdendo

Dimas Marques
  • Dimas Marques

    Editor-chefe

    Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde pesquisou a cobertura do tráfico de animais silvestres por jornais de grande circulação brasileiros. Atua na imprensa desde 1991 e escreve sobre fauna silvestre desde 2001.

    Fauna News
30 de agosto de 2013
“O exército sul-africano matou três moçambicanos, incluindo um membro das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, e deteve outros sete quando praticavam caça ilegal no Parque Nacional Kruger, noticiou hoje a imprensa moçambicana.

Citando fontes governamentais dos dois países, o diário O País, editado em Maputo, indica que os 10 moçambicanos foram neutralizados no fim de semana quando se encontravam a caçar rinocerontes no interior do parque internacional, que atravessa a África do Sul, Moçambique e Zimbabué.” – texto da matéria “Três moçambicanos mortos e sete detidos por caça ilegal no Parque Nacional Kruger”, publicada em 28 de agosto de 2013 pelo site português Sapo

Existem cinco espécies de rinocerontes. duas africanas e três asiáticas

Foto: Pedro Rubens

As cinco espécies de rinocerontes (branco, negro, de-Java, de-Sumatra e indiano) estão ameaçadas, resultado da histórica perda de hábitat pelo desmatamento, da explosão da caça para a obtenção de chifres e de guerras civis.

Dependendo da espécie, os rinocerontes possuem um ou dois chifres que, no mercado negro, valem mais que ouro. Essa parte do animal está altamente valorizada pelas dificuldades impostas ao seu comércio, regulamentado desde 1975 (para as espécies asiáticas) e 1977 (para as africanas) com base na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagens em Perigo de Extinção (CITES). A transação de rinocerontes e suas partes constam no Apêndice I da CITES, que proíbe tal atividade. A exceção é o rinoceronte-branco-do-sul (Ceratotherium simum simum) que habita a África do Sul e a Suazilândia e que, por estar no Apêndice II, pode ser comercializado vivo para instituições apropriadas ou como troféu de caça. Tudo mediante autorização.

De acordo com a Humane Society International , organização de proteção aos animais, o quilo do chifre custa cerca de 60 mil dólares para venda ao consumidor final – o mesmo peso em ouro custa aproximadamente 58 mil dólares (dezembro de 2011). A cotação do chifre varia entre 50 mil e 100 mil dólares cada unidade.

Tais valores justificam a ousadia dos traficantes de chifres de rinocerontes. Bem armados e utilizando até helicópteros, eles invadem unidades de conservação, como Kruger Park, e extraem os chifres – normalmente, os animais ficam vivos, feridos, agonizando até a morte.

Os animais agonizam até a morte
Foto: Troy Otto

Os chifres de rinocerontes são bastante utilizados na medicina tradicional asiática, principalmente na China e no Vietnã. Segundo a WWF e a International Rhino Foundation (IRF), organização com sede nos EUA, os chifres são comercializados em pó ou em tabletes para serem moídos como parte de fórmulas para o tratamento de sangramentos, convulsões, febres, AVC e dores em geral.

O Vietnã é apontado como o responsável pelo recente aumento da demanda de chifres de rinocerontes no mercado negro. Para a IRF, há cerca de seis anos, um boato sobre a cura de um ex-político doente de câncer circulou pelo país e incentivou a procura pelo suposto remédio.

Os chifres de rinocerontes são formados de queratina, proteína fibrosa responsável pela formação de nossas unhas e os cabelos. Não há, de acordo com especialistas,  nenhuma referência em pesquisas científicas que justifique o uso do chifre como medicamento.

Para tentar frear a matança, a África do Sul, país que abriga 40% do total dos rinocerontes-negros e 93% dos brancos, em estado selvagem, colocou as forças armadas para trabalhar. Mas os traficantes ainda estão ganhando essa guerra:

“Dados divulgados pelas autoridades sul-africanas indicam que o número de rinocerontes abatidos entre janeiro e agosto do corrente ano ultrapassa em 140 o total dos animais mortos ilegalmente em igual período do ano passado.” – texto do site Sapo

A mãe foi morta pelo chifre e abortou
Foto: Troy Otto

Dados do South African Nationa Parks, órgão que gerencia as unidades de conservação da África do Sul, dimensionam o problema. Veja o número de rinocerontes mortos:

2007 – 03
2008 – 83
2009 – 122 (ano do suposto boato no Vietnã)
2010 – 333
2011 – 448
2012 – 668
2013 (até agosto) – 587

– Leia a matéria do Sapo

Fauna News

Sobre o autor / Dimas Marques

Formado em Jornalismo e Letras, ambos os cursos pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós-graduação lato sensu “Meio Ambiente e Sociedade” na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com uma monografia sobre o tráfico de fauna no Brasil. É mestre em Ciências pelo Diversitas – Núcleo de Estudos das […]

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