O Fauna News encerrou suas atividades. Confira as publicações de nosso acervo.
Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda em Ecologia pela mesma universidade, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS).
Seus principais interesses são conservação de vertebrados, ecologia de rodovias, mastozoologia, etologia, ecologia de felinos e educação ambiental.
Hoje, meu artigo será em um formato diferente, em um tom mais pessoal, para que eu possa me despedir de forma adequada de todos os leitores e divulgadores desta página de educação ambiental. O Fauna News contribuiu por muitos anos com a divulgação de informações sobre o meio ambiente, resistindo e persistindo para levar Ciência de maneira acessível e gratuita ao público.
Iniciei minha colaboração em 2016, ainda na graduação, sem muita experiência na escrita e no diálogo com a sociedade. Hoje, após mais de 30 artigos publicados na coluna Fauna e Transportes e já cursando o doutorado, sou profundamente grata por ter tido esse espaço para desenvolver minha comunicação, criatividade e reflexões sobre o dia a dia como pesquisadora.
Esta despedida acontece porque, infelizmente, o Fauna News está em seus momentos finais. A falta de recursos torna inviável manter, organizar e administrar um produto tão valioso quanto este portal de notícias. Essa realidade não é isolada — muitas outras iniciativas voltadas à temática ambiental e educativa enfrentam desafios semelhantes, frequentemente trabalhando no limite da voluntariedade.
Ao longo desses anos, procurei sempre abordar temas que tivessem relação com o meu cotidiano em campo, como o monitoramento de animais atropelados nas cidades, a mortalidade de grandes mamíferos nas rodovias, as mudanças climáticas, estradas em lugares remotos, espécies menos conhecidas, impactos indiretos das rodovias, percepções sociais sobre a fauna e, principalmente, críticas à forma consumista e capitalista que norteiam as nossas vidas. Busquei traduzir conceitos científicos para uma linguagem mais acessível e provocar reflexões sobre o convívio entre seres humanos e vida silvestre, além de tentar trazer a percepção humana como parte da natureza.
E para encerrar minha trajetória aqui, gostaria de compartilhar uma notícia que conecta três linhas de pesquisa às quais tenho me dedicado nos últimos anos: Ecologia de Movimento, felinos e rodovias. Embora ainda não os esteja trabalhando de forma integrada, esses temas têm guiado grande parte da minha atuação científica — e, por isso, achei esse caso especialmente simbólico para encerrar meu ciclo aqui no Fauna News.
Na última semana, uma onça-pintada equipada com um colar de GPS, monitorada via satélite por meio de projetos de pesquisa que integram os parques nacionais do Iguaçu (Brasil) e do Iguazú (Argentina), gerou um alerta ao se aproximar de uma rodovia conhecida por seu alto índice de atropelamentos de fauna. Com essa informação em mãos, foi possível acionar guardas-parques da Argentina, que prontamente se dirigiram ao local para controlar a velocidade dos veículos, reduzindo o risco de atropelamento desse indivíduo.
Esse episódio exemplifica a força da cooperação entre países, projetos e setores da sociedade em prol da conservação. Foi possível graças à tecnologia disponível, ao comprometimento dos guardas e à dedicação das equipes dos projetos Onças do Iguaçu e Yaguareté.
Mas esse tipo de ação só se concretiza quando há recursos: equipamentos, pessoal capacitado e financiamento contínuo para manter projetos que estudam e monitoram a fauna. Fico muito feliz em ver lugares onde esse trabalho é possível e reconhecido e tenho certeza de que não foi uma caminhada fácil até lá.
Infelizmente, a realidade brasileira segue marcada pela escassez de apoio a ações ambientais. Muitas iniciativas dependem do trabalho voluntário de profissionais dedicados, que fazem o impossível para que a conservação aconteça. Enquanto a pauta ambiental não for uma prioridade orçamentária — clara, sólida e respeitada — teremos mais perdas como a do Fauna News.
Obrigada por terem me acompanhado até aqui. Agradeço imensamente aos meus colegas de laboratório (Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – NERF/UFRGS), ao meu companheiro pelas ilustrações (@cartuns_perdidos) e a todos os revisores e editores deste portal, que sempre me apoiaram na elaboração e nas sugestões dos meus textos — aprendi muito com todos. Que, em novos caminhos, encontremos espaços em que a educação ambiental, a Ciência e a empatia sigam lado a lado com a resistência e a inspiração.
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).
Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda em Ecologia pela mesma universidade, trabalhando junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF-UFRGS). Seus principais interesses são conservação de vertebrados, ecologia de rodovias, mastozoologia, etologia, ecologia de felinos e educação ambiental.
