Por Andréia Nasser Figueiredo¹, Daniel Campesan² e Larissa Ferreira³
¹Bióloga, mestra em Ecologia e Recursos Naturais e doutora em Ciências, ambos na área de Educação Ambiental. É cofundadora e educadora ambiental na Fubá Educação Ambiental e atua no grupo Escola da Floresta – Sítio São João e no Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS)
²Gestor e analista ambiental pela Universidade Federal de São Carlos. Educador da Fubá Educação Ambiental
³Gestora e analista ambiental graduada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).Educadora da Fubá Educação Ambiental e colaboradora do Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia – NAPRA
educacaoambiental@faunanews.com.br
Nós, seres humanos, somos indivíduos do sentir, das vivências e experiências. Poder apreciar essas sensações é imprescindível para o nosso desenvolvimento enquanto seres individuais e coletivos. É um privilégio ter a possibilidade de viver em nossa sociedade e ter as vontades respeitadas, respeitar as das outras pessoas e dos outros seres vivos não humanos.
Ao refletir sobre esse processo do nosso desenvolvimento, é importante lembrar que o vivenciar e o experimentar é diverso. Tem pessoas que percebem o mundo pelas suas cores, outras por cheiros e texturas ou então pelos barulhos. Cada ser humano criará relações com o mundo que o cerca de forma individual, se for permitido. São várias as combinações dos usos do sentido. E isso também acontece no mundo animal. Tem bicho que é muito silencioso no caminhar e tem a audição super aguçada. Outros são mais barulhentos e utilizam o olfato para se orientar. O ambiente em que os seres vivem molda comportamentos e proporciona a cada bicho diferentes relações.
Agora, vamos fazer um exercício de imaginação. Que tal imaginar como é ser um animal de vida livre? Escolha um. Tente lembrar se você já teve o privilégio de ver algum deles livres no ambiente. O que você faria? Como perceberia o ambiente à sua volta? O que precisaria para viver? Certamente, você percebeu que o mundo ideal para o animal que imaginou ser está cada vez mais distante do que encontramos na realidade mundial.
Nós, seres humanos, demoramos décadas para perceber que eram necessárias políticas públicas para garantir o mínimo para a sobrevivência de várias espécies. O modelo de desenvolvimento que temos hoje, com a supervalorização e a expansão dos espaços urbanos e das monoculturas no campo, resulta no aumento do desmatamento, na degradação de solos, ar, água e na perda da qualidade ambiental nos ecossistemas.
Enquanto sociedade, compreendemos, ou deveríamos compreender, que o meio ambiente saudável é um direito universal. Mas quando falamos nos impactos socioambientais que resultam desse modelo de desenvolvimento, eles não atingem as pessoas e demais seres vivos de maneira igual. Frente a esse problema, o campo da justiça ambiental defende a ideia de que as responsabilidades por esse cenário ambiental desigual não devem ser cobradas de forma igual entre as pessoas. As consequências ambientais negativas oriundas das escolhas da sociedade moderna são sentidas de forma diferente dentro da nossa sociedade. É importante relembrar que a desigualdade social está diretamente ligada à desigualdade ambiental.
Podemos ampliar a interpretação, ainda no campo da Justiça Ambiental, para os outros seres vivos. Ou seja, nenhum outro ser vivo deveria arcar com esses impactos negativos causados por nós. Mas a realidade é que as relações que permeiam o viver impossibilita que eles saiam ilesos. Nossa reflexão então é como conectar o campo da Justiça Ambiental, pensada para os seres humanos, com direito dos outros seres não humanos?
A educação ambiental para a conservação da biodiversidade é uma importante aliada, já que tem como proposta o repensar das relações que nós, humanos, estabelecemos historicamente com os outros seres. Aproximar as pessoas da realidade dos animais silvestres, sejam eles de vida livre ou de cativeiro, possibilita a compreensão dos acontecimentos que fazem com que esses animais estejam perdendo os seus habitat. Propor reflexões sobre a importância do papel ecológico que desempenham, despertar o encantamento com essas espécies e relembrar o direito deles de viver em seus habitat naturais são estratégias educativas importantes em busca de uma realidade mais igualitária.
Apoiar a prática educativa em projetos de conservação fortalece o trabalho na busca pela justiça ambiental. Os projetos de conservação de animais silvestres subsidiam não só com dados dos animais, mas levantam a realidade ambiental em que esses seres estão inseridos. É muito importante caminhar junto com os projetos de conservação! Os trabalhos de campo, de monitoramento, de avaliação e de ações estratégicas para ajudar a recuperar esses animais muitas vezes são ações desconhecidas do restante da população. A educação ambiental tem o dever de trazer os conhecimentos levantados pelas pesquisas dos projetos, de relembrar a realidade sociocultural onde esses projetos atuam e de avançar na discussão em prol da conservação.
Nós, como pessoas individuais dentro de uma coletividade, podemos, sim, exercer o papel de impulsionar as mudanças e cobrar as responsabilidades, pois é a partir de nossos valores éticos e estéticos que criamos e moldamos a nossa base social e legislativa. A luta pelas causas ambientais ligadas aos animais silvestres podem vir de diferentes formas, desde uma simples mudança de comportamento, procurando entender como uma escolha individual pode impactar o ambiente em que os animais vivem, até do ato de apoiar um projeto de conservação, compartilhando as informações e as realidades que são vivenciadas pelas pessoas em campo.
O que podemos refletir?
A luta pela justiça ambiental englobando os animais silvestres não é um processo fácil e, sem dúvidas, deve ser de todas e de todos. Nós, como educadoras e educadores, podemos em nossa prática educativa unir forças com os projetos de conservação na busca de uma realidade mais justa aos animais silvestres, quem sabe possibilitando a eles comportamentos mais naturais em ambientes mais saudáveis.
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