Amanda Martinelli
Bióloga formada pela Universidade Cidade de São Paulo. Apaixonada por Zoologia, especialmente Entomologia e Ornitologia.
Quando pensamos na cidade de São Paulo, talvez a primeira cor que nos venha em mente seja o cinza da poluição, além das imagens de carros e arranha-céus. E não é por menos: temos cada vez mais empreendimentos imobiliários colossais, condomínios e mais condomínios, e cada vez menos áreas verdes.
No final da minha graduação em Biologia, meu grupo e eu tivemos como tema de trabalho de conclusão de curso o levantamento da avifauna no Parque Jardim Felicidade, a 400 metros da minha casa, na zona oeste da capital paulista. Para o trabalho, além de guias de identificação das espécies, usamos câmeras e o entusiasmo de jovens ornitólogas em formação.
Veja bem: eu moro aqui em Pirituba desde meus sete anos e nunca imaginaria que um parque tão pequeno poderia ser lar de quase 60 espécies diferentes de aves até eu começar a estudar Biologia – e eu não sou a única. O Parque Jardim Felicidade foi construído pelos próprios moradores do bairro, que o visitam diariamente ou semanalmente e, no máximo, reconhecem os inconfundíveis sabiás-laranjeira e bem-te-vis.
Segundo a prefeitura de São Paulo, de 1991 a 2000, cerca de 356,49 hectares (3.568.464,9 m²) foram desmatados em Pirituba – que costumava ser o bairro mais arborizado da cidade. Isso impacta tudo. Os moradores e a fauna local são afetados diretamente. Com os resultados da nossa pesquisa, conseguimos fazer uma comparação com levantamentos anteriores e observar espécies nunca antes vistas no parque.
Esse fenômeno de “boom” de construções de prédios se chama verticalização, problema especial para aves com a perda de hábitat, ilhas de calor e, principalmente, colisões com vidros, quase sempre fatais. E, afinal, nós também sentimos as mudanças com as ilhas de calor e a perda da identidade de nossos bairros, parques e vegetação.
Trabalhos como esse levantamento de fauna no parque são necessários para reunir a comunidade, para abraçarmos o cuidado com a fauna e saber que é importante para nossa própria vivência e saúde mental. São necessários para direcionar ações de educação ambiental, para nos movermos por ações menos nocivas para o meio ambiente, para lutarmos por nossas áreas verdes, mesmo que pequenas pois, como diz a máxima conhecida, não conseguimos ter interesse em proteger aquilo que não conhecemos.