Por Andréia Nasser Figueiredo¹, Daniel Campesan² e Larissa Ferreira³
¹Bióloga, mestra em Ecologia e Recursos Naturais e doutora em Ciências, ambos na área de Educação Ambiental. É cofundadora e educadora ambiental na Fubá Educação Ambiental e atua no grupo Escola da Floresta – Sítio São João e no Instituto de Conservação de Animais Silvestres (Icas)
²Gestor e analista ambiental pela Universidade Federal de São Carlos. Educador da Fubá Educação Ambiental
³Gestora e analista ambiental graduada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).Educadora da Fubá Educação Ambiental e colaboradora do Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia – NAPRA
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Entre 31 de outubro e 13 de novembro de 2021 (data da publicação do documento final) aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 26), realizada em Glasgow, na Escócia. Esse evento reuniu representantes dos governos a fim de discutirem sobre as futuras ações dos países frente às mudanças climáticas. Ao final da conferência e de inúmeros debates e promessas de ações, o texto final contendo todas as obrigações que os signatários devem cumprir foi bastante criticado pelas organizações ambientalistas.
Havia uma expectativa de metas e acordos que de fato barrassem o aumento da temperatura no planeta. Mas o que vimos foi um documento que prevê a redução, e não a eliminação, do uso de combustíveis fósseis. E o que isso de fato tem a ver com a área de educação ambiental (na verdade com todas as áreas ambientais) e o nosso trabalho de conservação da biodiversidade? Tudo!
As movimentações e as decisões políticas são parte fundamental do campo ambiental e são constituintes da educação ambiental. Apesar de muitas vezes negligenciada, o componente político aparece claramente em um dos documentos base da área educativa, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (1992).
Além dessa última, temos no histórico da nossa área outras grandes conferências que moldaram nossos caminhos até aqui. Em 1972, na Conferência de Estocolmo, na Suécia, vimos o primeiro passo ser dado ao ser discutido, entre as nações, os direitos fundamentais para uma vida digna, justa e equitativa, na tentativa de garantir o direito e o acesso ao meio ambiente natural e equilibrado para as atuais e futuras gerações. Foi a primeira vez que a pauta ambiental foi trazida para o âmbito governamental.
Em 1975, em Belgrado (Iugoslávia), e em 1977, em Tbilisi (Geórgia), ocorreram duas conferências específicas sobre as questões ambientais citadas brevemente em Estocolmo. Vamos destacar a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental em Tbilisi porque foi a principal fomentadora para a área em caráter global. Em seu documento final, definiu-se os objetivos, as características da educação ambiental, assim como as estratégias apropriadas. Foi a primeira vez que vimos aparecer que a educação ambiental deve aproximar diversas áreas do conhecimento para superar o quadro de crise ambiental.
Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em 1992, no Rio de Janeiro, saímos com dois documentos para pressionar os governantes a cumprirem as metas acordadas nesses eventos, a Agenda 21 e a Carta da Terra. Além disso, foi dessa reunião que surgiu a Convenção do Clima, um tratado que já tinha como proposta estabilizar a concentração de gases do efeito estufa para evitar interferências no sistema climático. A Rio 92, ou Eco 92, é a conferência mais conhecida e representa um marco justamente por, após 20 anos da Conferência de Estocolmo, termos definido pontos chaves de um desenvolvimento sustentável. Vale destacar que além dos documentos da conferência oficial, foi no evento paralelo (o Fórum da Sociedade Civil) que saiu o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, anteriormente citado.
Voltando à COP 26, percebemos que ainda estamos patinando em metas definidas em 1992. Saímos com um documento final que não nos mostra uma perspectiva otimista e continuamos sem definições fundamentais como, por exemplo, a criação do Fundo para Crises Climáticas. Sobre a participação do Brasil no evento, apesar do nosso “desgoverno” e do pior cenário ambiental possível (batendo o recorde de queimadas), conseguimos dialogar e recuamos para fechar os acordos. E, paralelamente, fomos bem representados na sociedade civil por importantes lideranças indígenas, como a Txai Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia.
O que queremos trazer brevemente aqui é que essas reuniões são marcos para as questões ambientais, logo, são primordiais para a educação ambiental. Quando as conferências geram textos finais, como colocado pela ativista Greta Thunberg ao descrever o resumo da COP 26 como “bla-bla-bla”, precisamos trabalhar mais o âmbito político em nossas práticas cotidianas. A desesperança não pode nos paralisar e, como colocado por Paulo Freire (1991, p. 90):
“[…] existe na medida em que eu ou nós mudamos o presente. E é mudando o presente que a gente fabrica o futuro: por isso, então a história é possibilidade e não determinação”.
Referências
– MELO BARRETO, L; MACHADO VILAÇA, M. T. Controvérsias e consensos em educação ambiental e educação para o desenvolvimento sustentável, v. 7, n. 5, p. 16, 2018. Disponível em: <https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=560659012009>. Acesso em: 23 Nov. 2021.
– FÓRUM INTERNACIONAL DAS ONGs. Tratado de educação ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global. Rio de Janeiro, 1992.
– FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991
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