Por Suzana Padua
Mestra em educação ambiental e doutora em desenvolvimento sustentável. Co-fundadora e presidente do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas)
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A comunicação evoluiu muito nos últimos tempos. Na época de meus pais, mandavam-se cartas, que levavam dias para chegar, ou telegramas, quando os assuntos eram urgentes. Daí a pessoa recebia, lia e tinha tempo de pensar como que iria reagir. Uma troca de ideias levava, no mínimo, 15 dias. Bem diferente de hoje, que recebemos mensagens o dia inteiro, escritas há segundos, e sempre com a expectativa de que precisam ser respondidas quase que imediatamente.
A calma se transformou em pressão. O tempo de reflexão foi suprimido porque tudo passou a ser urgente. Nessa rapidez, a superficialidade muitas vezes prepondera, embora a informação nunca tenha estado tão disponível como agora.
Como tirar partido desse cenário para tocar corações e mentes em questões socioambientais? Ao fazer uma pesquisa recentemente, encontrei muitos materiais interessantes, acessíveis a todos e que podem ser úteis para a educação ambiental. Esses vão desde entrevistas ou depoimentos com exponentes da área, pensadores que conceptualizaram o campo no Brasil (parte 1 e parte 2), até programas leves e feitos para públicos infantis e jovens, como um programa feito em Juazeiro (BA).
Outra forma de noticiar informações científicas inclui um podcast chamado Desabraçando, que me entrevistou há algum tempo.
Tem ainda TED Talks, dos quais posso sugerir dois ligados aos temas de interesse para conservação e educação ambiental. O primeiro é com Patricia Medici e o segundo é um TedX comigo.
Por que é tão importante chamar atenção para esses meios de comunicação? Antes, publicar livros e artigos era o esperado de qualquer profissional do meio acadêmico que lida com ensino. Essa realidade ainda é válida, claro! Mas hoje, jovens e até crianças estão “viciados” em celulares, Ipads e laptops e nem imaginam como era a demora da troca de correspondências de gerações não tão distantes. Não há mais como ignorar a força desses veículos de comunicação e a educação ambiental tem muito a ganhar ao se lançar nesse caminho.
Tive um aluno no sul da Bahia, hoje mestre Eritan Alves de Oliveira, que passou a utilizar comunicação virtual quando se tornou professor e o faz com muita criatividade. Resolveu adotar uma área natural urbana, o Horto de Ipiaú (BA), e solicitou apoio à prefeitura local para limpeza e cuidados que precisavam ser adotados. Ao ter delonga nas respostas, passou a levar seus alunos à área, mesmo que em estado precário, para que juntos planejassem o que precisaria ser feito. Realizaram limpeza, plantios e outras medidas de beneficiamento do Horto. Porém, o que mais se destacou foi a identificação de espécies da flora utilizando um aplicativo nos celulares.
O entusiasmo dos alunos em participar das atividades propostas e o desejo de se engajarem na “adoção” do Horto chamou tamanha atenção, que a TV Globo local marcou reportagem para cobrir o que estava acontecendo. Quando esse interesse se tornou público, as autoridades locais se mexeram rapidamente e num flash todas as ajudas governamentais que estavam engavetadas se materializaram. Tudo ficou impecável para o dia da filmagem.
Mais recentemente, Eritan me mandou uma nova iniciativa sua, dessa vez com crianças menores. Vestiu-se de minhoca e compôs um rap para enfatizar a importância desses seres, que geralmente são vistos como feios e desprezíveis, mas cujo papel para o solo e para o ecossistema como um todo é fundamental.
Outro exemplo que posso trazer são as “Trilhas de Aprendizagem” que foram desenvolvidas para apoiar professores durante a pandemia através do Projeto Semeando Água do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, realizado na região do Sistema Cantareira (SP). A coordenadora de educação ambiental, responsável pela elaboração do material, Andrea Pupo (também mestre pelo IPÊ e aluna orientada), optou por produzir sequências didáticas que ficam disponíveis para download gratuito no site do Projeto Semeando Água. “Não há necessidade de imprimir. São seis trilhas, que abordam diversos temas relacionados à aprendizagem através da natureza. Os materiais estão repletos de hiperlinks que auxiliam educadores na criação de situações de aprendizagem, seja através da músicas, obras de arte, artigos para leitura, sistema de monitoramento de queimadas via satélite ou posições de yoga”, afirma Andrea.
Algumas trilhas (“Nós e as Florestas” e “Incêndios florestais”) contêm jogos on-line, que reforçam conceitos e habilidades que são trabalhados com os estudantes em salas de aula de forma presencial. Foram úteis durante a pandemia e continuam sendo importantes, uma vez que as habilidades digitais são absolutamente essenciais em todos os contextos, sobretudo na educação ambiental.
Usar de tecnologias atuais pode ajudar a despertar o interesse nos jovens, que são familiarizados com muitas delas, sejam de que idade forem. A criatividade pode e deve ser utilizada para fins educacionais, pois é de novidade que a educação que vem sendo ofertada está precisando. Esperar resultados novos aplicando os mesmos modelos de sempre não é promissor e não deve trazer grandes transformações. Daí a razão de a educação precisar de atualizações constantes e ousadia na forma de repassar conhecimentos, estimulando trocas e ajustando as metodologias e os conteúdos do que está sendo repassado para que se tenha resultados mais promissores.
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