Por Karlla Barbosa
Bióloga, especialista em Tecnologias Ambientais, mestre em Conservação Ambiental e Sustentabilidade e doutoranda em Zoologia. É coordenadora de projetos na SAVE Brasil, principalmente no Projeto Cidadão Cientista
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O ser humano demorou séculos para entender porque algumas aves sumiam de um local. Filósofos e naturalistas criaram diversas hipóteses no século XVI para explicar o desaparecimento de tempos em tempos das aves. Charles Morton explicava que elas iam para a Lua nesse período que sumiam. Já Olaus Magnus dizia que as andorinhas hibernavam no fundo dos lagos e Aristóteles afirmava que as aves se transformavam em outras aves.
O segredo só foi revelado em 1822 quando uma cegonha foi achada na Alemanha com uma flecha no pescoço proveniente de uma tribo da África. Foi assim que se começou a entender que algumas espécies de aves viajam todos os anos e por isso elas somem.
Para a época, essas eram as melhores explicações para entender a migração das aves.
Mas a verdade é que a migração das aves ainda está sendo esclarecida até hoje. No Brasil, ainda sabemos muito pouco sobre nossas espécies: não sabemos para onde exatamente elas vão, qual a rota que fazem, se elas retornam para o mesmo local, se os jovens fazem a mesma rota que os pais, etc.
Estima-se que no Brasil cerca de 200 espécies de aves são migratórias. Isso corresponde a, aproximadamente, 10% de todas as espécies de aves que já foram registradas no país (1.919 espécies). Quando pensamos em migração, nos vem à mente uma trajetória longa vinda de outros continentes, como é o caso do maçarico-acanelado (Calidris subruficollis) que vem do norte da América do Norte para o sul do Brasil, podendo chegar a percorrer mais de 40 mil quilômetros em apenas um ano! Mas temos também espécies que migram dentro do Brasil em trajetórias mais curtas, seja indo do sul para o norte do país como também aqueles que migram apenas entre o vale ao topo do morro. De uma forma ou de outra, todas guardam segredos a serem desvendados.
Este mês, muitas aves migratórias começam a chegar nas regiões Sul e Sudeste do Brasil para encontrar seus parceiros e ter filhotes. Essas aves podem ser encontradas, inclusive, em parques urbanos nas grandes cidades. As tesourinhas (Tyrannus savana), por exemplo, passaram as “férias” em grupos de milhares na Colômbia e agora estão voltando, numa viagem de cerca de 7 a 12 semanas. Imagine tudo que elas enfrentaram nessa jornada? Todos os lugares que elas pararam para descansar ou se alimentar?
Preste atenção porque você, com certeza, vai ver algumas aves migrantes chegando na sua vizinhança. Os meus favoritos nas áreas urbanas são o bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus), o peitica (Empidonomus varius) e a tesourinha (Tyrannus savana). Qual é o seu?
Deixo aqui algumas dicas:
– Ajude os cientistas a conhecerem mais sobre essas espécies e suas rotas através da prática da ciência cidadã. Faça listas no eBird com suas observações, assim vamos conseguir saber quando essas aves chegam e por onde andam.
– A SAVE Brasil tem um projeto com aves limícolas migratórias. Se quiser saber mais, entre no site e faça parte do nosso bando
– Fiz um vídeo animado para explicar a migração e deixo aqui o convite para você assisti-lo e se inscrever no canal para receber mais informações sobre as aves migratórias:
https://youtu.be/BIg7r0Seuw4
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