Por Bibiana Terra
Graduada Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra e doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ecologia da mesma universidade, onde atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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Com certeza, você já ouviu falar da polinização, um serviço ecossistêmico importantíssimo para os seres vivos. Ela é realizada por diferentes animais, sendo os insetos os protagonistas, e proporciona vida a diversos alimentos que consumimos. Assim como outros serviços ecossistêmicos, a polinização vem sofrendo com o aumento das atividades humanas, seja pelo uso de agrotóxicos ou pelo desmatamento.
As faixas de domínio, popularmente conhecidas como beira de estrada, são propriedades públicas, utilizadas como apoio em diferentes situações, como na construção e na manutenção das rodovias. Nessa área não se pode construir e qualquer utilização precisa de autorização do órgão responsável e, por isso, muitas vezes as faixas de domínio são ambientes diferentes dos imóveis marginais. Sabemos que na realidade nem sempre é assim, já que em muitos locais não há essa regularização.
Talvez você esteja se perguntando: “o que isso tem a ver com a polinização?”
Com a expansão agrícola em algumas regiões, as beiras de estradas acabam sendo um dos poucos locais com remanescentes de vegetação nativa (um habitat, como falamos). Com uma comunidade de plantas e flores fornecendo néctar e pólen aos insetos e demais polinizadores, elas poderiam ser consideradas importantes para a conservação.
Um estudo desenvolvido no Reino Unido comparou a abundância das flores e dos polinizadores nas beiras de estradas e nos campos agrícolas subjacentes. A abundância de flores e polinizadores foi maior na beira da estrada do que na plantação. Os autores também avaliaram a influência do volume do tráfego e da poda da vegetação na faixa de domínio. Eles identificaram que o tráfego teve pouca influência na abundância das flores, mas que em estradas com mais veículos os polinizadores foram menos abundantes. Porém, tanto a abundância das flores quanto dos polinizadores foi muito menor nas áreas em que a vegetação foi podada.
Os autores sugerem que a conservação dessas áreas deve ser priorizada em rodovias com menor volume de tráfego. Eles também destacam que as podas, que muitas vezes precisam acontecer por conta da visibilidade dos motoristas, devem ser realizadas em períodos de menor atividade dos polinizadores.
Como nem tudo são flores, há duas questões importantes a serem comentadas. A primeira é que em muitos casos ocorre o plantio de gramíneas exóticas nas faixas de domínio (com consequências negativas que não abordarei aqui), sendo que o plantio de plantas não lenhosas nativas pode ser benéfico para essa manutenção da polinização. A segunda é que a conservação dessas áreas da beira de estrada poderá atrair um número grande de animais, mesmo dos polinizadores de interesse, e isso pode ocasionar um aumento da mortalidade desses indivíduos nessas regiões.
Obviamente, a beira da estrada não deve substituir as áreas protegidas ainda preservadas e que apenas as faixas de domínio não são suficientes para sustentar a polinização. O que destaco aqui é que conservar essas áreas pode auxiliar esse serviço ecossistêmico em regiões onde não existem muitos remanescentes nativos de vegetação, como em zonas agrícolas. Para isso, é importante identificar qual a melhor forma e época de fazer a manutenção das áreas de beira da estrada com intuito de fornecer um ambiente favorável para os polinizadores, mas sem esquecer de considerar as consequências dessa ação.
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