Por Cristina Rappa
Jornalista com MBA Executivo de Administração e especialização em Comunicação Corporativa Internacional. Observadora de aves e escritora de livros infantojuvenis com temática voltada à conservação da fauna
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Será que criança curte estórias de passarinho? Essa dúvida apareceu quando a Editora Melhoramentos me convidou para contar a estória do meu primeiro livro infantil, Topetinho Magnífico, em escolas de municípios paulistas, após seu lançamento, em junho de 2012.
Jornalista de formação, com experiência em jornais diários, revistas e em comunicação corporativa, eu só tinha, até escrever o livro, experiência em falar com adultos.
Sempre gostei de animais, especialmente os silvestres, e suas causas sempre me interessaram e tocaram. Apesar do interesse em ciências biológicas, acabei indo para o jornalismo dada a minha paixão pela leitura e redação e, dentro do jornalismo, atuei em editorias ou veículos especializados em ciências, meio ambiente e agricultura.
Quando saí de um cargo executivo em uma multinacional norte-americana e em fase de guinada na vida, veio a sugestão, por parte de uma amiga que já havia publicado mais de uma centena de livros para crianças, de escrever um livro para esse público, uma vez que as escolas estavam demandando mais textos com cunho de preservação ambiental.
Bom, sabe aquela dúvida que mencionei sobre os eventos com as crianças? Pois bem, apareceu pela primeira vez. Será que eu iria me dar bem escrevendo para esse público? Eu nem filhos tive. E linguagem meio gugu-dadá, que idiotiza a criança, eu não iria conseguir fazer. Acho que nem era esse o propósito da editora.
Eu nem tinha começado a observar aves, mas fui ao lançamento de um guia de aves de ornitólogos, editado pela empresa de um conhecido, e folheando o material me encantei com um beija-florzinho muito pequeno (cerca de 4,5 centímetros), com um lindo topete vermelho, endêmico do Brasil e existente em nossa mata atlântica e cerrado. Foi o clique.
Pesquisas e estudos mais tarde, nascia a estória do passarinho que foi caçado por traficantes de aves silvestres para ser vendido em feiras de grandes cidades brasileiras ou exportado para fora. Afinal, há gringos que criticam o Brasil por desmatar a Amazônia, mas adoram desfilar com uma arara ou papagaio dos trópicos.
Entre os personagens, além do Lophornis magnificus, o Topetinho Magnífico que dá nome ao livro, há outras aves bonitas ou ameaçadas, como o bicudo (grande vítima das gaiolas, em função de seu canto lindo) e o pica-pau-de-parnaíba (Celeus obrieni), dado como extinto até ser redescoberto no interior do Tocantins no começo dos anos 2000, cerca de oitenta anos sem ser observado.
Para tratar com crianças de tema tão sério como o comércio de animais silvestres, resolvi lançar mão de muita ação, diálogos e até humor. Não é porque o tema é sério que o texto precisa ser sisudo, né?
Mandei o texto para Editora Melhoramentos e – um pouco para a minha surpresa, sem falar na alegria – logo veio o contrato para assinar. O livro seria oferecido em escolas do ensino fundamental em todo o Brasil. Fiquei muito contente, porque seria uma oportunidade para as crianças tomarem conhecimento do tema do tráfico de animais silvestres. Mais tarde, o abordaria em outra mídia: um artigo na Folhinha, o encarte infantil que a Folha de S. Paulo publicou por anos.
Livro ilustrado com maestria por Maurício Veneza, diagramado, impresso e lançado, começaram os eventos com as crianças, em escolas que já tinham adotado o material ou que o adotariam.
Não é que a experiência com crianças foi ótima e me cativou? Taí um público que se interessa, participa, conta suas experiências (escutei muitos casos das caçadas do tio, do papagaio da avó…), dá sugestões (“Tia, por que o Topetinho, que tem asas, não vai viajar?”, “Por que o Topetinho não conhece uma Topetinha, se apaixona perdidamente e se casa?”, e por aí vai) e faz perguntas.
Gostei da experiência e não parei mais, levando o Topetinho e os temas da preservação ambiental e da valorização da nossa rica biodiversidade por meio das aves a escolas e/ou entidades com crianças carentes de diversos locais. Minha ideia era plantar sementinhas e sensibilizar as crianças para serem multiplicadoras dessas mensagens visando mudar a realidade da caça e da gaiola, ainda forte em várias regiões do país, inclusive na periferia das nossas grandes cidades. Além de uma crueldade, uma forte ameaça à nossa biodiversidade.
Em uma dessas atividades, a professora organizou uma peça de teatro com o tema, representada por crianças que viviam em situação de precariedade em bairros pobres da capital paulista. Foi uma emoção! E Fábio, o menino filho de catadores de materiais recicláveis em São Paulo, que viveu o Topetinho, pintou o topete de vermelho e encarnou com maestria, na forma e no conteúdo, o passarinho. A professora me contou depois que a atuação dele surpreendeu a todos, uma vez que ele costumava ser muito tímido e que quase não se expunha. Pelo visto, o Topetinho deu o clique em Fábio também.
Transformador esse topetinho!
Depois de Topetinho Magnífico, eu lançaria mais dois outros livros infantis tendo aves como heróis: O Soldadinho da Caatinga (Florada Editorial, 2018) e O Tiê da Mata Atlântica (Florada, 2019). Bom, mas isso fica para uma outro artigo…
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