Educação ambiental em áreas naturais: um caminho para a sustentabilidade

Sensibilizar as pessoas sobre a importância da natureza é fundamental para a sustentabilidade planetária. Essa questão não fazia parte das preocupações humanas quando o contato era diário com o meio natural, seja para alimentação, moradia ou deslocamento. Mas, com a aglomeração humana cada vez mais acentuada em centros urbanos, a natureza parece ter ficado em segundo plano. Perdeu seu valor intrínseco e se tornou fonte de recursos para a produção em série do mundo industrializado.

A exploração da natureza passou a ser tão avassaladora que foram criados mecanismos de proteção. Um deles consiste nas chamadas áreas protegidas. Ora, protegidas de quem se não da própria humanidade? Com risco de perdas mais acentuadas do que as que vinham ocorrendo em meados do século 20, algo precisava ser feito para frear a ganância e a ocupação desmedida e garantir que locais especiais e a biodiversidade sobrevivessem às pressões humanas crescentes.

Paralelo à criação de áreas protegidas, a educação ambiental foi concebida como ferramenta de sensibilização da sociedade, tanto em relação ao meio ambiente natural quanto a sua ligação com ele. Sua importância foi sendo reconhecida na medida em que a necessidade se intensificou e, aos poucos, aspectos sociais foram adicionados aos de preservação. A conservação, com interação humana de forma sustentável, passou a ser aceita por muitos. Emergiu o socioambientalismo, defendido na América Latina onde, além dos problemas de perdas ambientais, enfrenta pobreza, miséria e outras questões sociais graves.

Hoje, as áreas naturais protegem ecossistemas vitais para a biodiversidade e para o equilíbrio planetário. Estatísticas recentes divulgadas por Sir David Attenborough, em seu livro O Planeta Terra, de 2022, divulgam que, atualmente, 70% da biomassa de aves no planeta é composta por aquelas criadas para consumo humano, como frangos, perus, codornas e outras. Ou seja, todas as espécies silvestres que embelezam e compõem a biodiversidade planetária somam apenas 30%. Com mamíferos, os números são ainda mais alarmantes: 96% da biomassa destes consiste em animais domesticados como gado, porcos, ovelhas, cavalos, pets, entre outros. Todo o restante da fauna, como lobos, elefantes, girafas, tigres, bisões, micos leões, antas, onças, preguiças, baleias, golfinhos e mais uma infinidade de espécies que vivem em diferentes hábitats do mundo somam apenas 4%. Como Attenborough diz: “estamos repondo o selvagem pelo domesticado” e empobrecendo o planeta.

Nesse cenário, a educação ambiental se torna ainda mais essencial por ser uma estratégia de sensibilização que visa criar uma relação equilibrada entre os seres humanos e a natureza. Com a maioria da população humana vivendo em centros urbanos, o contato com o ambiente natural tem sido escasso e raro. As oportunidades de se vivenciar e apreciar a natureza se tornaram bastante reduzidas. Mesmo não sendo fácil, o ideal seria que a visitação a parques e unidades de conservação ocorresse com mais intensidade para que houvesse maiores chances de a natureza ser devidamente valorizada.

O desafio de conservar áreas naturais

As áreas naturais protegidas precisam de empenho para que sua proteção ocorra de fato. Parques, reservas biológicas, outras categorias de unidades de conservação e demais áreas naturais enfrentam pressões crescentes devido à expansão urbana, agricultura, desmatamento ilegal, mineração e mudanças climáticas. Contam com recursos limitados, o que dificulta ainda mais uma gestão apropriada. Daí a importância de parcerias público privadas que vêm sendo testadas na gestão dessas áreas, contribuindo com conhecimentos, recursos e administração, inclusive com iniciativas educacionais.

Muitas dessas áreas são protegidas por leis e regulamentos, mas ainda se percebe uma falta de compreensão de sua importância por parte dos tomadores de decisão, da população em geral e de muitas comunidades que as cercam. Com isso, há perdas ambientais que poderiam ser evitadas se, por exemplo, medidas de envolvimento das populações locais ocorressem de forma contínua. A ideia seria tornar essas comunidades apoiadoras da conservação e não fontes de degradação, como tem sido comum em muitos locais do Brasil e do mundo.

Para que isso ocorra, seria necessário oferecer capacitações diversas que rendessem ganhos financeiros e sociais. Exemplos incluem incentivo ao turismo ecológico com a formação de guias, monitores, chefs de culinária regional, artesãos, entre outros. Conviver de maneira sustentável é chave para que se tire bom proveito do potencial humano e ambiental de cada uma dessas áreas naturais. Neste sentido, a educação ambiental se torna um meio valioso que supre ambas as necessidades: conservar a natureza e melhorar as condições sociais de comunidades locais, além de fornecer serviços ambientais a todo o planeta.

A educação ambiental como ferramenta de transformação

Educação exige processos de longo prazo e adaptabilidade das estratégias adotadas. Em áreas naturais não é diferente. Os programas deveriam ser contínuos, indo bem além de palestras e eventos esporádicos. A preocupação com a proteção e o encantamento com a natureza precisam fazer parte do cotidiano das populações, de modo a incentivar práticas sustentáveis. Para isso, é necessário levar em conta as culturas locais e que se respeite as tradições das comunidades, ao mesmo tempo em que sejam introduzidos novos conceitos de sustentabilidade e valores ambientais.

Em áreas naturais, a educação ambiental pode ser utilizada de diversas formas. Exemplos incluem visitas guiadas, atividades ao ar livre de contemplação e observação de aspectos naturais. Jogos e brincadeiras leves também têm sido aplicados com boa aceitação por parte dos participantes. Porém, para se oferecer capacitação para possíveis fontes de envolvimento de comunidades locais, é preciso conviver com as pessoas e identificar potenciais já existentes e interesses que possam se tornar fontes de renda e de proteção ambiental conjuntamente. É abrir caminhos nos quais todos se sintam parte, aproveitando as diversas culturas e talentos que enriqueçam as iniciativas propostas.

As áreas naturais são adequadas para a implementação de ações educativas, tanto para as populações locais como para os turistas, de modo a proporcionar uma imersão direta no mundo natural, o que permite que as pessoas vivenciem a biodiversidade de forma concreta. O contato com a natureza tem um poder transformador, com potencial de despertar no indivíduo um sentimento de pertencimento e de seu valor pessoal que pode ser colocado a serviço da conservação.

O que fica cada vez mais claro é que a conservação da biodiversidade encontrada na natureza precisa de muito empenho, tanto com a criação de áreas protegidas, quanto com o desenvolvimento de um campo específico na educação. Assim, a educação ambiental e a proteção de áreas em diversas categorias têm aspectos e potenciais comuns, como trazer conhecimentos e transformação de valores que reconheçam a importância do mundo natural.

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