Nascido em São Paulo (SP), formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e fotógrafo de vida selvagem desde 2017. Ministrou durante dois anos o curso de Fotografia de Vida Selvagem para Iniciantes através de um projeto de extensão do Ministério da Educação. Tem experiência com pesquisas na área de ornitologia, ecologia e comportamento animal, além de divulgação científica.
Olá, como vai? A coruja-buraqueira (Athene cunicularia) foi o primeiro animal que tive o privilégio de observar através de uma lente, lá em 2017. Desde então, criei uma relação muito forte com essa espécie, que começou a marcar cada vez mais presença no armazenamento dos meus cartões de memória. Portanto, neste artigo, espero poder compartilhar um pouco do que aprendi registrando essa linda ave ao longo dos anos.
A coruja-buraqueira é uma das corujas mais comuns não só do Brasil, mas das Américas. Ela ocorre desde o Sul do Canadá até a Terra do Fogo, um arquipélago situado no extremo sul da América do Sul.
É uma ave relativamente pequena, tendo no máximo 30 centímetros de altura e pesando até 285 gramas (os machos são ligeiramente maiores e mais pesados que as fêmeas). Suas principais características são a cabeça arredondada sem nenhum penacho, olhos grandes e amarelos e uma coloração composta por diferentes tons de marrom que se camuflam com a terra.
Sua alimentação é exclusivamente carnívora, constituída principalmente por insetos e pequenos vertebrados. Entre suas presas favoritas estão besouros, gafanhotos, roedores, pequenos répteis, anfíbios e até morcegos.
Atualmente, a coruja-buraqueira não se encontra em risco de extinção, estando classificada como “pouco preocupante” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Porém, a previsão é de que suas populações irão diminuir com o passar dos anos (dados de 2016), por conta do atrito com a atividade humana. O trânsito de veículos pesados é uma das principais causas de morte das corujas, já que a vibração causada no solo pode desmoronar as tocas e asfixiar os pais e os filhotes que estão dentro.
No Brasil, as corujas-buraqueiras já foram registradas em todos os Estados e estão distribuídas na maioria dos biomas, com exceção da Amazônia (mas já existem estudos que mostram que elas estão começando a ocupar áreas desmatadas dessa floresta, nos arredores de Manaus). Você terá mais facilidade de encontrá-las em campos, pastos, áreas de cerrado, praias, restingas e até áreas urbanas, ou seja, onde a vegetação não é tão densa e fechada.
Diferentemente de muitas corujas, a buraqueira é frequentemente vista no solo, próxima das tocas utilizadas para descanso, abrigo e construção dos ninhos. Não à toa, o nome científico de sua espécie (cunicularia) tem origem do latim e significa mina/túnel, além do seu nome popular nada enigmático.
Os próprios machos da espécie são capazes de cavar os buracos, mas a preferência dessas aves é já encontrar uma “casa” pronta, que normalmente foi construída por outros animais, como tatus, texugos e esquilos.
Já deu para perceber que as buraqueiras não se encaixam muito no estereótipo das corujas, então aqui vai outra peculiaridade. Em locais com abundância de alimento, elas também podem ser observadas vivendo em colônias, nas quais diferentes famílias podem estar conectadas subterraneamente. Assim, a eficiência das etapas reprodutivas pode ser otimizada e os indivíduos podem se ajudar na vigia contra predadores.
Sem enrolar muito, a única peça essencial para fotografar as corujas-buraqueiras é uma lente teleobjetiva. Na minha experiência, esses animais costumam deixar você se aproximar até uma distância relativamente pequena, então algo em torno de 200 mm deve dar mais do que conta do recado.
Tendo em vista o tipo de ambiente que essas aves são encontradas, o uso do parasol pode ajudar a proteger um pouco a lente da quantidade de luz recebida, principalmente se você estiver fotografando em dias de céu aberto e horários de sol forte.
Apesar de ser uma espécie relativamente tolerante à presença humana, a aproximação deve ser feita de forma lenta e respeitosa. Preste atenção em alterações no comportamento enquanto caminha em direção à coruja. Abrir as asas, balançar a cabeça e vocalizar normalmente são maneiras dela avisar para não se aproximar mais (caso continue, ela fugirá para sua toca ou até atacará, se estiver com filhotes).
Passei um bom tempo acompanhando a vida de uma família de buraqueiras e outra coisa que percebi é que cada indivíduo tem sua personalidade própria. Algumas corujas são bem receptivas e posam por vários minutos para a foto, enquanto outras já se escondem assim que você chega no local. Se tiver a oportunidade, tente retornar frequentemente e mostrar que você não oferece perigo para o animal. Isso construirá uma confiança que, no futuro, renderá boas oportunidades.
Quanto às configurações da câmera, não tem muito segredo. Utilize uma velocidade do obturador suficiente para deixar a foto bem nítida (algo em torno de 1/500s) e a aumente para fotos da coruja em ação (caçando, em voo, etc.). Tendo em vista o hábitat dessa ave, você não terá muitos problemas com a quantidade de luz que entra na lente. Lembre-se de utilizar o modo de foco AI-Servo/Af-Continuous caso o bicho decida se mexer repentinamente durante os cliques.
Novamente, diferente das outras corujas, as buraqueiras possuem hábitos tanto diurnos quanto noturnos, sendo mais ativas durante o crepúsculo. É nesse período que você consegue capturar imagens do lado predador dessa ave, enquanto de dia a cena mais comum de ser vista é dela se descansando e observando os arredores de suas tocas.
Além de ter uma ótima visão tridimensional binocular e conseguir girar sua cabeça até 270°, a coruja-buraqueira tem uma excelente audição. Por isso, caso esteja disponível em seu equipamento, utilize o modo silencioso da câmera (que reduz o som emitido pelo obturador fechando) e desative os “bips” para evitar que ela se assuste no primeiro disparo.
Tenha paciência na hora de fotografar. Essas aves são muito carismáticas e expressivas, principalmente por conta dos seus olhos. Se esperar o momento certo, pode ser que você capture um retrato muito mais interessante e com mais personalidade.
As corujas-buraqueiras também são extremamente inteligentes. Já foi observado que elas aprenderam a levar esterco (e até restos de lixo) para frente e/ou para dentro de suas tocas com a finalidade de atrair besouros e outros insetos. Caso não esteja vendo a coruja logo de cara, mas se deparou com uma toca “armadilhada”, não custa esperar um pouco para ver se ela dá as caras.
É sempre um prazer poder observar e fotografar uma coruja-buraqueira. Esse animal foi extremamente importante para a minha história na fotografia de fauna e, até hoje, é a espécie “controle” que me mostra o quanto minhas imagens foram melhorando ao longo dos anos. Espero ter te ajudado um pouco com o conhecimento que as corujas me ensinaram. Obrigado pela companhia e até a próxima!
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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Nascido em São Paulo (SP), formado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e fotógrafo de vida selvagem desde 2017. Ministrou durante dois anos o curso de Fotografia de Vida Selvagem para Iniciantes através de um projeto de extensão do Ministério da Educação. Tem experiência com pesquisas na área de ornitologia, ecologia e comportamento […]
