Médica veterinária e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Atua desde 2010 na Divisão da Fauna Silvestre da cidade de São Paulo, sendo responsável pelo setor de recebimento de animais oriundos do tráfico. Tem experiência nas áreas de patologia animal, clínica de aves e répteis e reabilitação. É docente do curso de bacharelado em medicina veterinária do Centro Universitário Anchieta desde 2023.
Quem já ouviu falar sobre “agosto, o mês do cachorro louco”? Agosto foi lembrado por várias gerações como sendo o mês oficial de combate ao vírus da raiva, através das campanhas de vacinação de cães e gatos. As campanhas se iniciaram nesse mês devido ao aumento de casos positivos da doença observados nesta época do ano.
Devido a fatores relacionados ao clima, próximo a este mês que as cadelas entram em maior número no período reprodutivo. Isso gera aumento na propensão dos cães brigarem pelas fêmeas, ocasionando lesões por mordedura e maiores chances de transmissão desse vírus.
Apesar de poderem fazer parte do ciclo da doença, os animais domésticos não são os hospedeiros de manutenção do vírus no ambiente e, sim, os morcegos hematófagos.
Muitas pessoas associam o morcego a algo ruim, lembrando somente que eles podem transmitir a raiva. Tal conotação é ainda reforçada pelas fantasias relacionadas aos vampiros. O que pouca gente sabe é sua imensa contribuição à biodiversidade, sendo um dos maiores polinizadores e dispersores de sementes do planeta.
Assim, o monitoramento de morcegos realizado pela Divisão da Fauna Silvestre (DFS), em parceria com a Divisão de Vigilância de Zoonoses (DVZ), ambos da prefeitura de São Paulo, visa o acompanhamento ativo de possíveis vírus causadores de zoonoses e outras viroses, como Coronavirus sp., Paramyxovirus sp. e Lyssavirus sp. (agente infeccioso da raiva) através da colheita de sangue, swab oral e retal dos animais e a identificação das espécies, grandes responsáveis pela manutenção de nossas áreas verdes.
O monitoramento ocorre através da captura do animal nas redes de neblina instaladas em áreas verdes e parques da cidade. É realizado no período noturno, já que é o horário de atividade do morcego, quando ocorre seu deslocamento. As redes são abertas por volta das 18 e 19 horas e permanecem até às 22 horas.
O monitoramento é realizado mensalmente e teve início em 2011, a partir do programa de inventário de fauna do município de São Paulo. Já foram capturados até o momento 1.202 indivíduos, pertencentes a 24 espécies. Com o apoio do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP), foram encontrados morcegos positivos para coronavírus, porém sem relação com o SARS-CoV-2, causador da COVID-19.
Além da espécie, são identificados o sexo, o estado reprodutivo e a idade, e realizadas a pesagem e biometragem de cada um deles. Em seguida, são marcados com microperfurações na membrana da asa (patágio), que auxiliam no resgate das informações ao longo dos anos e não prejudicam a vida desses mamíferos alados.
Nas expedições realizadas na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Curucutu, em 20 de janeiro e 21 de maio, foram coletados 24 espécimes de morcegos. Todos pertenciam à família Phyllostomidae, compreendendo seis espécies: cinco frugívoras e uma insetívora. Nessa ocasião, ocorreu o raro registro do morcego insetívoro Mimon bennettii, que é associado à qualidade ambiental das matas. Houve também o registro das espécies Carollia perspicillata e Sturnira lilium, ambas relacionadas às áreas em regeneração.
A importância do papel dos morcegos no controle de pragas e sua participação em cadeias alimentares de diversos biomas deve ser sempre bem lembrada. Ao mesmo tempo, devemos ter consciência do seu potencial risco transmissor de doenças, por ser reservatório de diversos patógenos (assim como outros animais silvestres).
Portanto, se você encontrar um morcego caído no chão ou em outra situação atípica, como voar de dia, não coloque a mão e nem tente capturá-lo. Além de o animal ser protegido por lei, há o risco de acidentes e de ele estar doente. O correto é informar o órgão de vigilância de zoonoses de sua cidade, que tomará as medidas necessárias.
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Médica veterinária e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). Atua desde 2010 na Divisão da Fauna Silvestre da cidade de São Paulo, sendo responsável pelo setor de recebimento de animais oriundos do tráfico. Tem experiência nas áreas de patologia animal, clínica de aves e répteis e reabilitação. É docente do curso de […]
