Educação ambiental na desértica paisagem educacional do Brasil

Se o Brasil quiser mudar de patamar social, vai precisar de uma revolução em seu sistema educacional. Os países que deram uma reviravolta em seu padrão de desenvolvimento investiram maciçamente por algumas décadas em educação. Exemplos incluem Finlândia, Polônia, Coréia do Sul, Singapura, Irlanda, Japão, entre outros. Superaram os desafios de terem que demonstrar resultados em quatro anos, prazo da maioria dos mandatos políticos, para seguirem planejamentos nacionais de longo prazo.

Os países desenvolvidos contam com uma educação de qualidade em todos os níveis, principalmente no ensino básico que, como o nome sugere, é a base para o que virá depois. É o alicerce que prepara o aluno para um leque de possíveis profissões que podem ser escolhidas de acordo com talentos individuais, dando a cada um maiores chances de aflorar naquilo que mais lhe aprouver.

O Brasil está entre os 17 piores índices na proficiência em matemática, de acordo com o Pisa de 2022 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), conforme divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quanto à leitura, a quantidade de adolescentes que chega ao ensino médio e não compreende o que lê e nem é capaz de se expressar com uma escrita razoável é alarmante. Ainda temos 30% da população na situação de analfabetismo funcional, que significa não ser capaz de compreender aquilo que lê.

A concentração de renda tem se intensificado como tendência mundial e no Brasil essa realidade chega a ser cruel. Quem nasce pobre tem todas as chances de morrer pobre. Dados, também da OCDE, apontam que ascender de uma classe baixa para uma melhor em países desenvolvidos pode ocorrer em duas ou três gerações, enquanto no Brasil, a estimativa é de nove gerações, ou seja, 200 anos. Isso significa que não vai acontecer, o que reforça e intensifica a imobilidade social. As chances de melhoria são pífias para a grande maioria da população brasileira, com números alarmantes daqueles que se encontram em situação de insegurança alimentar, ou seja, sem a certeza de contar com sua próxima refeição. Essa é a realidade de quem ganha até um salário mínimo mensal, demonstrando que o cálculo é insuficiente para assegurar um mínimo de dignidade.

Investimentos maciços seriam necessárias para que o Brasil se tornasse um país com chances para muitos e não só para quem é privilegiado (menos de 3% da população do país ganha acima de R$ 20 mil). O investimento em educação é incompatível com o que deveria ser para a 8ª potência econômica mundial, e por isso está entre os piores do mundo.

Uma das razões é que as lideranças tendem a priorizar o curto prazo e seus interesses pessoais, o que é incompatível com a melhoria da educação. Falta vontade e seriedade nas escolhas feitas por quem governa; por quem toma decisões. Recursos existem, mas o rumo de para onde são alocados precisa de um total redirecionamento.

Se a situação do ensino em geral no Brasil é calamitosa sendo a 8ª economia, o que demonstra desprezo pelos seus cidadãos, o que esperar no campo da educação ambiental? Qual prioridade é dada à proteção de sua natureza? O Brasil concentra uma das mais ricas biodiversidades do planeta, mas nossa história mostra a destruição de hábitat, já com perdas irrecuperáveis e com centenas de espécies ameaçadas de desaparecimento.

Como fazer, então, educação ambiental no Brasil?

A educação ambiental depende de alguns componentes, que nem sempre são levados em conta. Os primeiros cortes feitos em educação em geral se dão em arte, esporte, línguas e outras áreas que ajudam a ampliar o olhar do aprendiz. Muitos desses campos mexem com o lado sensível do ser humano, apontado como fundamental pela educação ambiental desde o seu nascedouro. Com as disciplinas que desenvolvem o lado racional sendo oferecidas com péssima qualidade no Brasil, conforme o índice de aproveitamento na matemática já exposto, e as que desenvolvem o lado mais sensível sendo extirpadas da grade curricular, a realidade se torna desafiante para o campo da educação ambiental.

A integração do racional com intuitivo e sensível é fundamental, pois é essa integração que ajuda a propiciar ambientes que promovem criatividade, melhorias socioambientais e econômicas, pois dão ferramentas para alguém ousar querer mudar realidades indesejadas. Com disciplinas sendo oferecidas com má qualidade e cortes naquelas que enriqueceriam o aprendizado, a situação se torna grave. Como vamos despertar interesses amplos em assuntos ligados à sustentabilidade, por exemplo, ou amor pela natureza?

No Brasil, a educação ambiental está pautada pela Lei nº 9.795, promulgada em 1995, que sempre foi apontada como pioneira e modelo a ser seguido. Bem formulada, os dois primeiros artigos definem sua abrangência:

• Artigo 1º – Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o individuo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade;
• Artigo 2º – A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.

Infelizmente, a lei não tem sido suficiente para garantir que seja oferecida uma educação ambiental de qualidade para todos. Muito ao contrário, programas de longo prazo ou de qualidade são raros, apesar de indicações de seu valor e diversos com resultados consistentes. Muitos servem de exemplos e laboratórios de aprendizado, o que reforça sua importância. Todavia, ainda estamos longe de contarmos com iniciativas consistentes que abranjam muitos, como sugere o artigo 2º: “em todos os níveis e modalidades do processo educativo”.

A lei é compatível com a necessidade de o Brasil defender uma das mais ricas biodiversidades do planeta. Sua implementação poderia trazer chances reais de proteção e envolvimento de muitos às causas socioambientais.

As abordagens utilizadas por educadores ambientais variam, mas a valorização da natureza é indispensável, assim como a vontade de contribuir para questões sociais. Sair da apatia exige um despertar que depende de sensibilização, possível quando há a integração de mente e coração, ou seja, o racional com o sensível.

Motivar e engajar as pessoas em assuntos que podem transformar realidades mais justas e sustentáveis é um dos grandes desafios da educação ambiental. É sair da apatia e da zona de conforto para se engajar em questões que visam a proteção da natureza, com melhorias sociais e econômicas. A apatia é comum, pois quem trabalha com conservação ambiental, seja ligado à fauna, flora ou elementos da natureza como água, solo ou outros indispensáveis à vida, se vê muitas vezes perdido diante do tanto que precisa ser feito.

Infelizmente, os estragos provocados pelas ações humanas são de tamanha magnitude que todos deveriam estar empenhados no que a Ciência aponta como necessário. O planeta demanda agora, não apenas proteção do que restou das áreas naturais. Precisamos ir além da recuperação e da restauração, o que tem sido chamado de regeneração. Isso quer dizer que deveríamos dar de volta mais do que o que retiramos da natureza para que possamos ter chances reais de sobrevivência da biodiversidade, que inclui a própria espécie humana na Terra.

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).