Fotografando o urutau

Olá! Espero que esteja tudo bem com você. Nos últimos dois artigos da nossa série, discutimos um pouco sobre as onças, animais terrestres, e mergulhamos no oceano para entender melhor duas espécies de baleias. Neste artigo, vamos levantar voo e dar uma olhada em uma ave extremamente interessante: o urutau-comum (Nyctibius griseus).

Urutau

O urutau, também conhecido como mãe-da-lua, ocorre desde a Costa Rica até a Bolívia, assim como no Uruguai e na Argentina, podendo ser encontrado em todo o território brasileiro. Seu nome, de origem tupi, significa “ave fantasma” e sua imagem está presente na mitologia de diversas culturas latinas, como na peruana, na boliviana e até na brasileira.

Sua dieta é composta unicamente de insetos (como mariposas, besouros e cupins), os quais são caçados durante a noite. De dia, o urutau escolhe um poleiro com o qual se camufla excepcionalmente bem e permanece imóvel nele, enquanto descansa.

Atualmente, o urutau-comum não se encontra ameaçado, estando classificado como “pouco preocupante” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Porém sua tendência populacional está diminuindo (dados atualizados em 2019), provavelmente por conta da fragmentação e destruição dos seus hábitats.

O gênero Nyctibius (cuja etimologia significa “alimentação noturna”) ainda engloba outras quatro espécies: o urutau-grande (Nyctibius grandis), o urutau-pardo (Nyctibius aethereus), o urutau-de-asa-branca (Nyctibius leucopterus) e o urutau-ferrugem (Nyctibius bracteatus). Todas elas estão distribuídas de forma muito mais restrita e com populações menores em relação ao urutau-comum.

Localização

Como dito anteriormente, o urutau ocorre em todo o Brasil, principalmente em ambientes como bordas de mata, cerrados, campos com árvores e até regiões urbanas bem arborizadas. Desde que a área não seja exageradamente fria e tenha um pouco de vegetação, ele normalmente consegue se adaptar bem. Suas populações estão mais concentradas em regiões de Mata Atlântica e Cerrado (principalmente no Sudeste do país), mas também têm bons números na Amazônia.

Existem diversos estudos que mostram que algumas populações da espécie que residem em regiões mais frias do país (nos estados do Sul e em alguns pequenos pedaços do Sudeste) migram ao norte durante o inverno, para fugir do frio e da escassez de insetos que essa estação traz.

A camuflagem dos urutaus é realmente surpreendente, então não fique triste caso esteja achando impossível encontrá-los durante o dia. Para aumentar suas chances, procure por tocos e galhos de árvores (geralmente sem folhas) posicionados na vertical, prestando bastante atenção em qualquer alteração na silhueta deles. Se der sorte, poderá até encontrar um filhote, visto que ele costuma ficar empoleirado no mesmo lugar dos pais.

Em regiões urbanas, é comum encontrá-los próximos de postes de iluminação, os quais atraem os insetos durante a noite e oferecem uma refeição quase sem esforço para essas aves. Existem também vários registros desse animal pousado em estacas de cercas de madeira.

Equipamento

Apesar de ser possível chegar relativamente perto de um urutau enquanto ele está dormindo, recomendo estar com uma lente teleobjetiva por ser um pouco mais versátil para fotografar aves em comparação aos outros tipos de lentes. Os extensores também são bons acessórios para ganhar mais alcance, caso seja preciso.

O uso de binóculos pode ajudar a encontrar um indivíduo camuflado com a vegetação antes de começar a apontar a câmera. Para fotografá-lo em ação durante a noite, será preciso alguma fonte de iluminação artificial, como flashes ou lanternas um pouco mais potentes. Nesse caso, tente tirar a menor quantidade de fotos possível a fim de reduzir o estresse do animal.

Em situações de pouca luz (matas fechadas e períodos crepusculares, por exemplo), um tripé ou monopé podem ser muito úteis para oferecer uma maior estabilização durante o uso de velocidades mais lentas do obturador.

Técnicas

Para o urutau, as mesmas regrinhas gerais voltam a se repetir, sem muito segredo. Se ele estiver parado, se concentre em deixá-lo bem nítido e corretamente exposto. Pense numa composição interessante e tente deixar o ISO o mais baixo possível. Dependendo do quão camuflado ele estiver, pode ser que sua câmera tenha alguma dificuldade em encontrar o foco, mas nada que uns ajustes manuais não resolvam. Também é legal tentar se manter no nível dos olhos da ave – fotos tiradas de baixo para cima geralmente não são tão agradáveis ao espectador.

Caso ele esteja predando insetos em voo, aumente a velocidade do obturador e utilize o modo burst de disparo, assim como o modo de foco AI-Servo/AF-Continuous para garantir a nitidez de assunto em movimento. Lembre de harmonizar tudo isso com a aplicação correta da iluminação que você escolher (flashes, externos ou não, e lanternas).

Dicas extras

Antes de ir a campo, dê uma decorada no canto do urutau e tente seguir na direção que o ouvir. Caso ainda esteja tendo dificuldades em encontrá-lo, o uso do playback pode ajudar, principalmente durante a noite quando eles estão mais ativos. Vale lembrar que isso deve ser sempre feito de forma moderada, para não estressar e nem enganar a ave sobre a presença de um indivíduo falso no seu território.

Se conseguir avistar e/ou fotografar essa ave em um local que você costuma passar repetidamente, lembre sempre de checá-lo de novo. Depois que os urutaus encontram um esconderijo praticamente perfeito para sua camuflagem, é comum que eles voltem sempre ao mesmo poleiro para dormir durante o dia.

Ao se aproximar desses animais, mantenha o máximo de silêncio possível e não faça movimentos muito bruscos mesmo que ele esteja dormindo. As aparências podem enganar. O urutau é uma das poucas espécies que possui os chamados “olhos mágicos”, que são pequenas fendas em suas pálpebras que os permitem enxergar mesmo de olhos completamente fechados, uma adaptação que o deixa sempre em alerta para possíveis predadores.

O mãe-da-lua sempre foi uma ave que atraiu a minha curiosidade e vontade de fotografá-la. Foi só neste ano que consegui encontrar meu modelo, que mora no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro. Um grupo de funcionários de uma obra me viram passeando com a câmera e perguntaram se eu havia visto ele, numa árvore bem em cima da minha cabeça. Se não fosse por eles, ia passar reto do bichinho de tão camuflado que ele estava.

Espero que este artigo tenha despertado o seu interesse em conhecer e fotografar essa ave tão elusiva,. Muito obrigado pela leitura e espero por você na próxima semana. Um abraço!

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).