Com a intensa fragmentação de hábitats, aumento nas taxas de extinção e tráfico de animais, instituições, como os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama e mantenedores de fauna silvestres, como zoológicos ou criadouros, têm se tornado ferramentas para a conservação ex situ (cativeiro) e in situ (vida livre) da biodiversidade faunística. Os Cetas foram criados para que os animais silvestres apreendidos ou resgatados tivessem adequada identificação, tratamento, triagem e destinação.
O recebimento dos animais nos Cetas pode ser oriundo de apreensão decorrentes da ação fiscalizatória, resgate ou entrega voluntária. Após a reabilitação, os animais podem ser soltos em áreas de soltura de animais silvestres (Asas) previamente cadastradas ou destinados para mantenedores registrados, como zoológicos e parques. Porém, alguns animais recebidos nos Cetas necessitam de cuidados e reabilitação que os levam a passarem longos períodos em cativeiro até sua total chance de retorno à natureza ou outra possível destinação. Dessa forma, um programa de enriquecimento ambiental é necessário para garantir o bem-estar deles e contribuir para a manutenção dos comportamentos naturais durante o cativeiro.
O que é enriquecimento ambiental
O enriquecimento ambiental é uma ferramenta que busca o bem estar do animal através da promoção da saúde física, mental e emocional. Ela consiste em criar um ambiente desafiador, interativo e que leve o indivíduo a expressar comportamentos naturais. Para tal, antes de pensar nas atividades de enriquecimento, busca-se conhecer as necessidades da espécie em questão. O enriquecimento ambiental pode ser de cinco tipos: alimentar, cognitivo, sensorial, físico e social.
Em 2022, em parceria com o Zoológico de Brasília, alguns recintos do Cetas-DF foram reformados e ganharam estruturas de enriquecimento ambiental do tipo físico para contribuir na reabilitação e bem-estar dos animais ali recebidos.
Além desses recintos, atividades de enriquecimento ambiental são realizadas no Cetas-DF semanalmente. Por ser um centro de triagem e destinação, onde há entrada de muitos animais e uma parcela deles é logo destinada, a maior parte das atividades tem como foco os indivíduos considerados prioritários, aqueles que estão em processo de reabilitação longo, como filhotes, animais feridos e deficientes.
Realiza-se uma classificação desses animais prioritários e inicia-se um trabalho focado, pois eles serão os que passarão mais tempo em cativeiro, necessitando de mais estímulos para manterem a expressão de seus comportamentos naturais ou até mesmo aprender tais comportamentos, como é o caso dos filhotes.
Desde que o programa de enriquecimento ambiental começou no Cetas-DF, tivemos resultados de sucesso: aceleração no tempo de reabilitação de alguns animais, com o estímulo ao forrageamento e à caça, que levou o animal a alimentar-se de forma independente antes do previsto; além de enriquecimentos sociais que levaram à formação de bandos e perda de comportamentos domesticados.
O enriquecimento ambiental além de contribuir para o bem-estar dos animais, pode ser utilizado como ferramenta de divulgação na educação ambiental, conservação da espécie e como divulgação do trabalho dos centros de triagem. Em datas comemorativas, o Cetas-DF, assim como outras instituições, realiza os chamados “enriquecimentos temáticos”. Através da divulgação de imagens e vídeos nas redes, abordamos os comportamentos e as necessidades dos animais e chamamos atenção para a questão do bem-estar desses seres cativos.
Dessa forma, o enriquecimento ambiental tem contribuído com a reabilitação dos animais no Cetas-DF, além de ser uma ferramenta útil para a educação ambiental. Lembrando que os animais devem ser estimulados em todas as instituições e mantenedores de fauna, tendo em vista que é uma ótima ferramenta para a aferição do bem-estar quando sob cuidados humanos.
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