Por Silvana Davino
Bióloga e responsável técnica da Área de Soltura Monitorada (ASM) Cambaquara, em Ilhabela (SP)
segundachance@faunanews.com.br
Finalmente, o dia tão esperado chegou! Serão 19 papagaios-moleiros (Amazona farinosa) libertados neste mês de dezembro na Área de Soltura Monitorada (ASM) Cambaquara, em Ilhabela (SP). É aquela sensação de dever cumprido com um pouco de medo. Será que eles irão se dar bem? Acredito que eles possam ter uma segunda chance!
Psitacídeos são aves de espécies que demoram mais para se reabilitarem se comparados aos passeriformes, por exemplo. Esses papagaios chegaram através de entrega voluntária, apreensão e resgatados por colisão em vidro, tiro de chumbinho, mordidos por cães ou gatos. Cada um com a sua história. Alguns estão conosco há pelo menos seis meses, outros há mais de dois anos. A formação de um grupo faz toda a diferença para se obter uma soltura de sucesso.
Reabilitação de papagaios
Ao chegarem, recebem uma marcação individual, que é um anel de aço inox colocado no tarso (parte da perna), chamada de anilha. Possui uma numeração única para cada indivíduo e nosso número de telefone para contato.
Seguimos todos os protocolos estabelecidos de preparação, que inclui treinar voo, identificar alimentos nativos, ter medo de seres humanos e reconhecer predadores, além da parte sanitária, que inclui a realização de exames de clamídia, salmonela, herpes de Pacheco, bornavírus e circovírus.
A época do ano escolhida é entre a primavera e o verão, pois sabemos que a mata oferece maior abundância de frutos. A soltura que realizamos é chamada de soft release, em que um grande janelão do aviário é aberto e assim permanece por pelo menos um mês. Os papagaios têm a liberdade de saírem e entrarem quando quiserem. A oferta de alimento continua tanto dentro do aviário como nos comedouros externos, garantindo a total suplementação nesse período de adaptação.
A parte mais difícil começa agora… Como saber para onde foram? Chamamos este processo de monitoramento pós-soltura. Nos seis comedouros externos que mantemos na propriedade, observamos as aves por meio do uso de binóculos ou câmeras fotográficas para registrá-las nos momentos de alimentação. Espalhamos cartazes pelos bairros mais próximos, conversamos com vizinhos e portarias de condomínios para que nos ajudem nesse processo e que, se houver qualquer informação relevante, que nos contatem.
Contamos também com uma rede de observadores de aves que nos informa, caso algum papagaio anilhado seja visto por ela. É o que chamamos de ciência-cidadã. Uma importante colaboração para o monitoramento, que ajuda na conservação das espécies.
Solturas em Ilhabela
Desde 2014, realizamos nove solturas de papagaios-moleiros , em um total de 72 indivíduos. Tivemos sucessos reprodutivos, em que conseguimos identificar pais anilhados com filhotes nascidos em vida livre. Também foram feitos avistamentos de papagaios anilhados em locais bem distantes de onde foram soltos.
Apesar de o papagaio-moleiro estar criticamente ameaçado de extinção no estado de São Paulo, sua população em Ilhabela é alta. Promover um censo da espécie para estimar sua população seria bem interessante, bem como iniciar uma pesquisa com a espécie no município. Seria uma excelente ferramenta para direcionar a conservação dessa aves e do meio ambiente.
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