Por Karlla Barbosa
Bióloga, observadora de aves, mestra em Conservação Ambiental e Sustentabilidade e doutora em Zoologia
observaçãodeaves@faunanews.com.br
A pandemia colocou muita gente em isolamento em 2020 e 2021, mas algumas pessoas acharam uma forma de se conectar com a natureza e também com outras pessoas com o mesmo interesse: observar aves.
O evento JaneLives juntou pessoas do Brasil todo que mantinham comedouros e bebedouros para as aves. Esses encontros virtuais eram transmitidos ao vivo, no formato que ficou muito popular durante a pandemia: as lives. Durante o ano de 2020, 48 localidades (comedouros) participaram das transmissões. Foram 29 em área rural e 19 em área urbana, distribuídos nos seis biomas. No total, 133 espécies de aves puderam ser observadas (ou assistidas) ao vivo nos comedouros, sem sair de casa.
As transmissões eram feitas pelo Canal Avistar no YouTube, geralmente aos domingos pela manhã. Os mantenedores dos comedouros colocavam câmeras que transmitiam ao vivo – muitas vezes, essas câmeras eram seus próprios celulares.
Muito além da diversão, essa observação das aves nos comedouros se tornou uma ação de ciência cidadã, pois foi possível transformar essa colaboração de cidadãos de diversas localidades em ciência. O resultado foi um artigo científico publicado em abril deste ano, que contou com a participação de 84 pessoas, entre donos de pousadas, observadores de aves e cientistas. Na publicação, que saiu em uma revista conduzida por brasileiros (Research Ornithology) e de abrangência internacional, nós contamos quais as espécies que aparecem nos comedouros, além de comparar aquelas que aparecem exclusivamente em áreas rurais ou áreas urbanas.
Uma das conclusões é que nos comedouros que estão fora das áreas urbanas foram registrados um maior número de espécies de aves (94) quando comparados àqueles que estão em áreas urbanas (68). As espécies mais comuns nos comedouros foram o sanhaçu-cinzento (Thraupis sayaca) e o sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris).
Espécies menos comuns também puderam ser observadas, como o pica-pau-de-cabeça-amarela (Celeus flavescens), o ararauna (Arara ararauna), o aracuã-do-pantanal (Ortalis canicolis) e até espécies migratórias, como o sabiá-ferreiro (Turdus subalaris).
Você saberia em qual época do ano os comedouros são mais visitados pelas aves?
Costuma-se dizer que o inverno é a melhor época para observar as aves nos comedouros, principalmente porque a oferta de alimento é menor na natureza e porque, assim como nós, elas sentem mais fome no frio. Os resultados do artigo mostraram justamente que entre os meses de maio e junho mais espécies foram registradas nos comedouros.
Como conclusão, podemos dizer que os cidadãos cientistas podem ajudar o monitoramento das aves e que projetos como esse, de monitoramento em comedouros – que já existe em outros países, como o Project FeederWatch – podem ser replicados por aqui. Mas se você ainda tem dúvidas sobre ter comedouros para atrair as aves em casa, leia um artigo que já publiquei aqui no Fauna News e que aborda mitos e verdades dessa prática. Inclusive, você pode plantar árvores e flores em casa para atrair as aves para perto e ainda deixar seu jardim mais colorido.
Para quem não quer ter um comedouro em casa, também existe a possibilidade de ir em pousadas especializadas, como o Sítio Macuquinho, o Espinheiro Negro, o Sítio Pau Preto, entre outras que você pode encontrar no artigo.
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