Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Pós-doutoranda em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses na Universidade de São Paulo (USP). Mestra em Ecologia e Evolução e doutora em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista. Coordenadora de Fauna da Prefeitura de Anápolis (GO), presidente da Comissão de Animais Selvagens e Meio Ambiente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás e docente e coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Metropolitana de Anápolis (Fama)
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A nova varíola é uma zoonose viral (um vírus transmitido aos seres humanos a partir de animais) com sintomas muito semelhantes aos observados no passado em pacientes com varíola, embora seja clinicamente menos grave. É causada pelo vírus que pertence ao gênero Orthopoxvirus da família Poxviridae. A doença, que sempre esteve restrita ao continente africano, tem aparecido em países da Europa, nos Estados Unidos, Austrália, Emirados Árabes e Argentina.
Existem duas variantes de vírus da nova varíola: a variante da África Ocidental e a variante da Bacia do Congo (África Central). O nome “varíola dos macacos” se origina da descoberta inicial do vírus em macacos em um laboratório dinamarquês, em 1958. O primeiro caso humano foi identificado em uma criança na República Democrática do Congo em 1970.
O vírus é transmitido de uma pessoa para outra por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.
Várias espécies animais foram identificadas como suscetíveis ao vírus da nova varíola. A incerteza permanece sobre a história natural desse vírus e mais estudos são necessários para identificar os reservatórios exatos e como a circulação dele é mantida na natureza. A ingestão de carne e outros produtos de origem animal mal cozidos é um possível fator de risco.
A varíola geralmente é autolimitada, mas pode ser grave em alguns indivíduos, como crianças, mulheres grávidas ou pessoas com imunossupressão devido a outras condições de saúde. As infecções humanas com a variante da África Ocidental parecem causar doenças menos graves, com uma taxa de mortalidade de 3,6% em comparação com 19,6% para a variante da Bacia do Congo.
O vírus está relacionado imunologicamente ao da varíola humana e mais distante ao da bovina e leporina.
Os sintomas iniciais da nova varíola nos seres humanos incluem febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, linfonodos inchados, calafrios e exaustão. Lesões na pele se desenvolvem primeiramente no rosto e depois se espalham para outras partes do corpo, incluindo os genitais. As lesões na pele parecem as da catapora ou da sífilis, até formarem uma crosta, que depois cai.
Como prevenção, os residentes e viajantes de países endêmicos devem evitar o contato com animais doentes (vivos ou mortos) que possam abrigar o vírus, como roedores, marsupiais e primatas, e devem abster-se de comer ou manusear caça. Higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel são importantes para evitar a exposição ao vírus, além de evitar contato com pessoas infectadas e usar objetos de pessoas contaminadas e com lesões na pele.
A doença nos animais (primatas não humanos) é caracterizada por vesículas e erupções cutâneas, mais comuns nos membros, descoloração e espessamento da mucosa oral, dos lábios e face. A maioria morre quando a doença está nesse estágio.
Parece que o orangotango é particularmente sensível e espécies como gibão, rhesus, cercopithecídeos e saimiri também são afetadas. Alguns estudos concluíram que a vacina variólica para pessoas pode ser empregada para proteger primatas não humanos contra a nova varíola.
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