Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Pós-doutoranda em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses na Universidade de São Paulo (USP). Mestra em Ecologia e Evolução e doutora em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista. Coordenadora de Fauna da Prefeitura de Anápolis (GO) e presidente da Comissão de Animais Selvagens e Meio Ambiente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás.
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Ao longo de sua curta história, o SARS-CoV-2 (vírus da Covid-19) demonstrou sua capacidade de alternar entre humanos e animais. Após seu surgimento de um provável reservatório de morcego, com ou sem um hospedeiro intermediário, o vírus infectou com sucesso uma série de animais domésticos e selvagens. Em 2020, a infecção de fazendas de visons em vários países foi um forte lembrete da importância da vigilância em saúde única. A constituição de um reservatório não humano de onde o vírus pode se espalhar de volta para humanos é uma grande preocupação, como exemplificado por vários vírus, incluindo influenza, com casos documentados de transmissão humano-suíno-humano.
Vivendo perto dos humanos, às vezes em grande número, os roedores são suscetíveis a doenças infecciosas que podem ameaçar a saúde humana, como peste, leptospirose ou febre de Lassa. A variante Ômicron tem mais de 50 mutações quando comparada com a cepa original do tipo selvagem e foi identificada globalmente em vários países. Ela tem um perfil de mutação único ao ser comparada com o de outras variantes do SARS-CoV-2, contendo mutações raras em amostras clínicas. Além disso, a presença de cinco sítios de mutação adaptados ao camundongo sugere que a Ômicron pode ter evoluído em um hospedeiro camundongo.
A intensa circulação da Ômicron é um forte alerta do risco de reservatórios de SARS-CoV-2 em roedores selvagens e esse risco pode se estender a outras espécies animais com alta densidade populacional. Essa variante resultou em um aumento nas ocorrências de Covid-19 em todo o mundo. De acordo com estudos científicos, o vírus evoluiu em um animal desde meados de 2020 antes de ser transmitido de volta aos humanos.
O surgimento da Ômicron indica que a vigilância das variantes do SARS-CoV-2 deve ser realizada em países economicamente subdesenvolvidos e no meio ambiente de tal modo que evite o surgimento contínuo de novas variantes. Compreender a ameaça representada da Ômicron exigirá que os pesquisadores coletem e analisem muito mais dados em um curto período. Determinar a origem dessa variante requer vigilância de animais, especialmente roedores, porque eles podem ter entrado em contato com humanos portadores de uma cepa do vírus com mutações adaptativas. Trabalhos futuros devem se concentrar nas variantes do vírus da Covid-19 isoladas de outros animais selvagens para investigar as trajetórias evolutivas e as propriedades biológicas dessas variantes in vitro e in vivo (em laboratório e em organismos).
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