Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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Os centros de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras), como já especificado e comprovado em vários outros artigos nesta coluna, são um serviço essencial devido a toda demanda que necessita de seus serviços e que se expande para todos os dias do ano, em todas as horas. Afinal, acidentes, tráfico e incidentes com animais silvestres não tem dia nem hora para acontecer e, sim, na maioria das vezes acontece fora de horário comercial.
Em um ano e cinco meses de pandemia, os Cetras e suas demandas não cessaram, pois, como falado anteriormente, as demandas não estão diretamente ligadas ao movimento de pessoas nas ruas. Porém, os índices de resgate de animais feridos e doentes aumentaram expressivamente (cerca de 50%), provavelmente devido ao fato de que as pessoas estavam mais atentas aos acidentes e à fauna que existe em seus quintais. Essa situação torna impossível reduzir o quadro para atender as demandas, apesar das restrições da pandemia.
Nas áreas de soltura e monitoramento de fauna (ASMF), os animais recém-soltos continuaram e continuam precisando de assistência e fiscalização para viabilizar seu desenvolvimento. Há também a demanda dos outros espécimes já aptos para retorno à vida livre, pois a recepção de fauna no centro continuou a ocorrer e, sem as solturas, havia o risco do colapso por superlotação. Ou seja, durante esse tempo de pandemia tudo teve que continuar “teoricamente” dentro da normalidade.
Para monitorar as ASMFs em Pernambuco é necessário percorrer todo o Estado, cerca de 2.500 quilômetros, o que expões os profissionais envolvidos a todos os perigos e formas de contágio da Covid-19. A experiência de estar nesse trabalho foi, por muitas vezes, aterrorizantes e constrangedoras. Não foi raro encontrarmos cidades com entradas fechadas por metralhas de construção e barricadas. como uma guerra armada, para evitar o acesso dos soldados inimigos. Havia também cidades vazias por estarem todos se protegendo, principalmente de nós, que éramos os principais vetores com potencial de trazer algum mau àquela população. Chegamos a ser expulsos de ASMFs por proprietários com medo de se contaminar – sendo que o maior medo de adoecer ou levar algo aos nossos familiares era nosso!
Depois de um ano e cinco meses, consegui ser imunizado. Não por ser grupo prioritário, por ter alguma comorbidade ou por trabalhar em um local essencial da área de saúde, mas porque chegou a minha idade de vacinação. O sentimento desse momento foi ímpar, permitindo recordar tudo que vivemos como a sequência de fatos de um filme. O medo começa a diminuir e a sensação de esperança de que o mundo possa realmente se curar e iniciar um novo ciclo de cuidados e atenção, principalmente com o meio ambiente. A natureza está alertando a todos que não suporta mais a forma como estamos consumindo seus recursos.
O Cetras Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) está com cerca de 50% dos funcionários imunizados com pelo menos a primeira dose. No centro, mantivemos as atividades da mesma forma por ser um local de serviços essenciais às vidas animal e humana, porque realizamos o manejo de fauna em risco eminente como todos os outros Cetras do Brasil e do mundo.
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