Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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Os centros de triagem e de reabilitação de animais silvestres (Cetras) tem por definição a recepção, triagem, reabilitação e soltura de animais advindos de apreensões, resgates e entregas voluntárias. Onde todos esses animais devem passar por uma avaliação inicial, quarentena e definição de qual é o seu destino.
A triagem é algo de grande importância no trabalho de conservação das espécies que chegam aos Cetras porque é nessa etapa que podemos diagnosticar os motivos de entrada de um animal de determinada espécie e o período que geralmente essa espécie chega mais. É também uma ferramenta de grande importância no quesito sanitário por permitir determinar qual espécie ou espécime precisa de um tratamento mais apurado para não ter grandes problemas na dispersão de patógenos no plantel (animais que já estão no centro).
Um exemplo bem emblemático dessa atividade é a atividade de recepção de crocodilianos que atende, no Cetas Tangará (da agência de meio ambiente de Pernambuco, CPRH), todos os aspectos que citamos no quesito triagem. O trabalho em conjunto com o Projeto Jacaré da Universidade Federal Rural de Pernambuco é responsável por todo processamento de triagem desses animais.
Iniciamos a triagem com os crocodilianos com o levantamento de dados da entrada do animal, definindo a espécie, de onde veio, em qual situação foi encontrado e se está machucado ou não. Determina-se, assim, o destino inicial desse espécime dentro do plantel do Cetras: clínica ou recinto.
Na etapa seguinte, temos as medidas biométricas – informação ecológica importante para estudo da espécie em ambientes urbanos e poluídos. Além dessa biometria, ocorre a coleta de material biológico para avaliação de saúde e, mais especificamente, níveis de metais pesados encontrados nesses animais, já que eles estão suscetíveis a níveis desconhecidos de poluição por habitarem também o sistema de águas pluviais e de esgoto.
Nesse processo também são identificados cada animal com microchips do Projeto Jacaré, que faz o acompanhamento dessas e de outras populações de crocodilianos, além de coleta de material genético para avaliar os índices de diversidade genética das populações desses animais.
Com isso, é possível afirmar que dentro do universo de recepção de crocodilianos temos diagnósticos sobre o período de mais entradas, idades mais frequentes e locais de onde esses animais são resgatados – já que a modalidade resgate é a que prevalece nas ocorrências envolvendo esse grupo. As entradas vêm crescendo de forma vertiginosa. Nos anos de 2016 e 2017, a quantidade não passava de trinta anuais, enquanto em 2018, 2019 e 2020 ultrapassa os 100 animais por ano.
Estamos observando o índice alarmante de incidência de entradas desses animais crescendo ano após ano, o que pode ajudar nos diagnósticos das mudanças nos meios urbanos e como esse processo afeta diretamente a fauna silvestre – cada vez mais pressionada nas margens das cidades, que já esbarram na área urbana de outros municípios. É importante destacar que a capital pernambucana, Recife, é toda cortada por rios, sendo chamada até de Veneza brasileira, e tem historicamente essa demanda de animais que habitam os cursos d’água.
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