Por Daniel Campesan¹ e Larissa Ferreira²
¹Gestor e analista ambiental pela Universidade Federal de São Carlos. Educador da Fubá Educação Ambiental atuando no Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS)
²Graduanda em Gestão e Análise Ambiental. É estagiária na Fubá Educação Ambiental e colaboradora do Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia – NAPRA
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Você já pensou o quanto está inserido no ambiente urbano? Se refletir por um breve momento, fica nítido que a cultura expansionista (crescimento urbano) é algo que está colocada como desejável para o desenvolvimento. Cada vez mais, é reforçada a ideia de que um ambiente adequado para nós vivermos é o antrópico, construído, ou urbano. Esse pensamento tem o embasamento de que o meio urbano pode nos fornecer maiores chances de segurança, sobrevivência e conforto. Mas há algo que nem sempre paramos para pensar: o quão distante estamos do ambiente natural?
Essa pequena reflexão nos faz acreditar que estamos cada vez mais distantes do ambiente natural, imersos em um mundo que a cada dia fica mais antrópico. E podemos observar isso em diferentes escalas. Desde escalas históricas, como o fato do número de pessoas vivendo nos centros urbanos ser maior do que em zonas rurais (resultante de um intenso processo de êxodo rural) até em acontecimentos cotidianos, quando inúmeras pessoas desconhecem a origem de seus alimentos. Mas por que falar desse distanciamento?
Pois o distanciamento não gera afeto, conexão e cuidado. Não gera envolvimento, engajamento, políticas públicas efetivas. O distanciamento do ambiente natural nos tira a possibilidade de compreender que tudo é cíclico. O dia e a noite, as estações do ano, os ciclos da água e do carbono, e tantos outros processos que ocorrem a todo momento mas que, talvez, não percebemos. E se não percebemos os processos e os seus ciclos, dificilmente notamos os demais seres que contribuem para que a vida ocorra no planeta. Por exemplo, o papel ecológico dos animais silvestres e a maneira como vivem integrados ao ambiente. Além disso, dificilmente sentimos que pertencemos ao lugar em que vivemos e que temos responsabilidades nas mudanças que impulsionamos.
O pertencimento é o sentido, sentimento de que nós pertencemos a algo e, ao mesmo tempo, de que esse algo nos pertence. Mas que fique claro: o pertencimento a que estamos nos referindo, que remete à palavra “pertencer” tem o sentido da reciprocidade – faz parte de nós ao mesmo tempo que fazemos parte do todo. Mas afinal, qual a importância disso nas nossas vidas? E, principalmente, para a conservação da fauna? Pode-se dizer que tem um grande papel, pois o pertencer motiva e direciona a nossa atenção e tempo para o cuidado com algo e isso resulta tanto em ações individuais quanto coletivas. Se conseguirmos compreender a complexidade do que está ao nosso redor e ter em mente que os diversos seres fazem parte desse ambiente, talvez sejamos capazes de dar maior importância à biodiversidade. Tendo isso em mente, pense na seguinte questão: você conhece a fauna e a flora local da sua região? Desses, quais seriam animais silvestres? E qual o papel desses animais silvestres naquele lugar?
Para projetos que trabalham com a conservação, a reconexão entre humanos e animais silvestres é de suma importância. Para isso existem diferentes formas de atuar, como o trabalho que vem sendo realizado pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres – ICAS com o apoio da startup Fubá Educação Ambiental. Por meio de parcerias, todo o conhecimento adquirido sobre as espécie do tatu-canastra e do tamanduá-bandeira é compartilhado de forma leve, criativa e reflexiva com as escolas municipais de Campo Grande (MS). Essas ações acontecem em diferentes vertentes, como a construção coletiva com professoras e professores sobre a temática de educação ambiental e a elaboração de materiais educativos sobre as temáticas das espécies do projeto.
O fato de nos reconectarmos com o mundo é um ato de autorreflexão, em que colocamos em xeque as nossas ações como seres individuais e coletivos. Resgatar a conexão e o sentimento de pertencimento com os lugares onde vivemos fortalece a nossa potência de ação. Potência essa que pode ser direcionada para a conservação da biodiversidade, ao reconhecermos que “somos parte do todo” e que todos os seres vivos e não vivos são importantes para a manutenção da vida na Terra.
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