Por Vitor Calandrini
Primeiro-tenente da PM Ambiental de São Paulo, onde atua como chefe do Setor de Monitoramento do Comando de Policiamento Ambiental. É mestrando no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Neste ano de 2021, início minhas reflexões sobre um foco diferente do combate ao tráfico de animais e sobre o que talvez surgirá como efeito no longo prazo: a mansidão social sobre a manutenção de animais advindos do tráfico e como essa indiferença gera milhares de mortes de silvestres ano após ano.
O que sempre surge nas mídias e redes sociais são ações de forças ambientais (polícia, Ibama, ICMBio) agindo em ações de combate ao tráfico de animais e como isso gera grande repercussão social. As pessoas se revoltam, veem como algo temerário e torcem para que fatos como esses não voltem a acontecer. Mas será que conseguimos fazer mais do que esperar que apenas os órgãos de fiscalização realizem esse combate?
Sim, todos nós podemos realizar algo. Mas é claro que cada de sua forma. Não podemos e nem queremos que as pessoas comecem a entrar nas casas e a quebrar gaiolas. Mas será que quando visitam locais (casas) onde há animais silvestres em cativeiro, ao menos apresentam indignação ou simplesmente fingem não perceber o que está ocorrendo?
Muitas das vezes, as pessoas que mantêm esses animais não percebem o dano ambiental que está por trás de sua ação e algumas delas imaginam que a diferença do preço entre um animal legalizado e um adquirido em uma feira do rolo, por exemplo, está apenas nos impostos. Muitas delas não percebem que um foi nascido de fato em cativeiro e o outro retirado da natureza e que, possivelmente, muitos outros morreram na captura ou transporte para que um animal chegasse em sua casa.
Pensando nisso, sempre que identificarmos casos de manutenção de animais que podem ser ilegais, devemos em primeiro lugar evitar incentivar a prática como não interagir com o animal, demonstrando que não concorda com sua manutenção da forma que está sendo mantido. Se tiver possibilidade, pode-se tentar demonstrar a importância daquele animal em vida livre, incentivar a pessoa a entregá-lo nos locais criados para essa finalidade, como os centros de triagem e de reabilitação de fauna (Cetas e Cras).
Devemos estar atentos que o combate ao tráfico de animais está muito além das ações de fiscalização. Enquanto estivermos tapando nossos olhos para o fato de que esse é um problema social e necessita da participação de todos, infelizmente não teremos grandes resultados no curto prazo.
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