Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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Os centros de triagem e de reabilitação de animais silvestres (Cetras) têm como função de vida receber, triar, reabilitar e destinar os animais silvestres advindos de apreensão, resgate e entrega voluntaria. São indivíduos que precisam de algum cuidado devido a fatores antrópicos (causados pelo homem) e, por isso, passarão por processos de reabilitação para serem soltos em seu habitat natural.
Dessa forma venho apresentar o balanço do ano de 2020 dos animais que deram entrada no Centro de Triagem de Animais Silvestres Tangará, da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH). Os números são bem representativos frente ao que passamos com a pandemia, que ainda se arrasta atualmente.
A pandemia determinou alguns ritmos no Tangará, não apenas no fluxo de pessoas, mas também da entrada de animais. O centro, desde seu início, tem uma média de entrada de 10 mil animais por ano e, com o problema da Covid 19, reduzimos para um pouco mais de sete mil animais. Isso seria ótimo se fosse consequência da redução dos principais fatores que levam a fauna a necessitar de atendimento especializado, porém, infelizmente, a realidade tem piorado.
Entre os fatores que fazem os animais chegarem ao Cetas Tangará, as apreensões são responsáveis pelo maior número. As quantidades variaram de acordo com os períodos de rigor do isolamento, aumentando com os indícios de afrouxamento. O mesmo aconteceu com as entregas voluntárias.
Já os resgates cresceram vertiginosamente, provavelmente porque as pessoas estavam mais em casa e começaram a observar melhor seus quintais e a perceber certos moradores um pouco diferenciados. Por falta de orientação adequada, a população acaba levando esses animais ao Cetas. O mesmo aconteceu com os indivíduos encontrados feridos ou doentes. O resgate ficou em segundo lugar na quantidade de entradas registradas.
Com esses números em decréscimo, as solturas também reduziram de forma bastante significativa. As solturas representaram um pouco mais de 50% do número de entradas de 2020.
Apesar de 2020 ter sido um ano atípico, ele nos mostrou pontos frágeis que indicam sobre os quais devemos nos preocupar. Com o isolamento social, as pessoas passaram a prestar mais atenção em seus quintais e arredores e isso provavelmente fez com que aumentasse o número de animais resgatados e de entregas voluntárias. Ou seja, os animais tiveram uma oportunidade de serem tratados e recuperados para serem soltos novamente em seu habitat natural, o que mostrou o quanto ainda temos de fauna sofrendo com a urbanização desordenada de nossas selvas de pedras.
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