Biólogo, mestre em Ecologia e agente de fiscalização ambiental do Ibama.
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Coleta científica é um eufemismo usado por biólogos para não terem que admitir para si e para a sociedade que praticam caça científica. A Ciência que estuda a vida acumula, em seus laboratórios, animais mortos. Após a perseguição ou a captura por armadilhas, o animal será morto e passará a fazer parte de uma coleção científica. Óbvio que nem todo biólogo exerce a necrologia, mas a obrigatoriedade de coleta ainda permeia o estudo da Zoologia. A caça científica esta regulamentada na Lei nº 5.197/1967 e é possível para cientistas, ou seja, pesquisadores. Dessa forma, não existe previsão legal para que alunos, sejam do ensino médio ou da graduação, capturem animais mesmo que sob o manto da Ciência.
Esse tipo de caça já era exercida por naturalistas renomados. Charles Darwin e Alfred Wallace coletaram inúmeros animais. Em 1859, Darwin pública A Origem das Espécies. A data foi aqui invocada não apenas para mostrar quão antiga é a coleta de animais, mas, também, quão arcaica ela é. Mais de 200 anos depois, os biólogos ainda matam, e muito, em nome da Ciência.
Mas será que a matança científica é realmente necessária ou apenas uma tradição e uma cômoda manutenção de cultura?
Na coleta de aves, descarta-se os órgãos internos e perde -se os olhos. Na de repteis e anfíbios, as cores não são preservadas. Ou seja, não existe hoje uma forma de preservação que assegure a manutenção de todas as partes ou características dos animais coletados. Os zoólogos taxonomistas, no entanto, se acostumaram a isso e a identificar as espécies por essa base. A análise genética e outras características poderiam substituir essa necessidade morfológica e, realmente, para alguns grupos, ela já existe. Mas mudar paradigmas é difícil e os biólogos seguem mantando.
Há algum tempo, institui-se o SisBio, um sistema de autorização de coleta que retornou uma figura esquecida na lei: a licença de coleta permanente. Ela foi concedida a doutores na área que, doravante, não necessitam mais apresentar projetos para poderem coletar animais. Quero crer, porém, que ninguém coleta animais sem um projeto científico, sem um objetivo.
Mas sei, infelizmente, que não é assim.
Pessoas coletam porque não têm aquele animal em sua coleção, porque ele é raro ou diferente, porque não o conhece e, ainda, porque vai que um dia precise dele. Isso tem que acabar. Animais não são figurinhas de coleção para biólogos. São vidas que possuem o legítimo interesse de continuarem existindo. Espero que os biólogos passem a acreditar em evolução, ao menos ou também a tecnológica e, com isso, preservem vidas como bem lembra o nome de sua profissão.
O texto reflete posição pessoal e não, necessariamente, institucional.
– Leia outros artigos da coluna NA LINHA DE FRENTE
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)