Por Bruna Almeida
Bióloga e coordenadora do Projeto Reabilitação de Fauna Silvestre e das atividades de educação ambiental no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (GO)
universocetras@faunanews.com.br
Os animais silvestres que são encaminhados aos centros de triagem e de reabilitação (Cetras) passam pela triagem, onde identifica-se a espécie e a faixa etária aproximada, bem como as condições físicas e clínicas, avaliadas pelo médico veterinário. Para a realização desse processo, é necessária a contenção do animal, que consiste na imobilização através de técnicas que assegure a integridade física dele e do profissional que realiza o manejo.
A contenção dos animais silvestres em cativeiro pode ser realizada de duas formas, através de meios físicos e químicos. A contenção física consiste em reduzir a atividade física do animal utilizando equipamentos específicos e adequados para as espécies, sendo os mais comuns o cambão, gancho herpetológico, rede de arrasto e luvas de raspa. Já para a contenção química é necessária a administração de fármacos tranquilizantes ou anestésicos através de rifles específicos, zarabatana e aplicação direta com seringa, sendo esse método utilizado frequentemente nas espécies mais agressivas e/ou estressadas.
Até nos animais silvestres mais “dóceis” é importante a utilização dos equipamentos, pois, ao tocar em algumas partes do corpo, o animal pode reagir com mordidas, unhadas, bicadas e coices. Há cães e gatos domésticos que não permitem a manipulação dos próprios tutores e reagem de forma agressiva, por que com os animais silvestres seria diferente?
No Cetas de Catalão, grande parte das contenções são por meio físico com utilização de equipamentos. Atualmente, temos em nosso plantel a Zuca, uma fêmea de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) que foi encaminhada apresentando lesão grave no membro posterior esquerdo, sendo necessária a troca de curativo a cada três dias. Apesar do seu comportamento totalmente selvagem, optamos por realizar o procedimento através da contenção física, utilizando focinheira de corda, cambão, rede de arrasto e uma toalha para cobrir os olhos, reduzindo o estresse. Nesse processo, a sintonia da equipe é fundamental para o sucesso do procedimento.
Durante esses três meses de procedimentos com a Zuca, foi necessária a contenção química somente uma vez e, na oportunidade, realizamos uma avaliação minuciosa e aplicação de laserterapia. A utilização de fármacos e suas associações devem ser cuidadosamente preparadas, pois há variações quanto à espécie e ao peso corporal e uma super dosagem pode matar o animal ou gerar sequelas. Um exemplo disso são os cervídeos, espécies extremamente sensíveis tanto a contenção física, que pode ocasionar a miopatia de captura (síndrome ocasionada por estresse), como também a contenção química. Além disso, é indispensável o monitoramento do animal desde a aplicação até o término do efeito sedativo.
Portanto, o manuseio de um animal deve ser cuidadosamente realizado por profissionais habilitados, utilizando os métodos seguros. Em várias ocasiões, o Cetas é acionado para sedar e capturar especialmente mamíferos que circulam pela área urbana ou que adentram em residências na zona rural. Identificar a espécie, estimar seu peso corporal e ter acesso ao animal para o disparo dos fármacos (com rifle ou zarabatana) se faz extremamente necessário para que o procedimento seja realizado com sucesso.
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