Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac (MS)
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Depois de alguns imprevistos técnicos e outros problemas, eis me aqui novamente! Dando sequência ao primeiro artigo, neste material abordarei a fotografia de répteis nas cidades, começando pelo jacaré. Vou usar como exemplo para a primeira imagem comentada a fauna que encontro nas minhas andanças aqui em Campo Grande (MS).
Não é difícil encontrar jacarés por aqui, principalmente no local conhecido como Lago do Amor. Trata-se de um lago dentro da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), que abriga uma fauna muito interessante, passando de capivaras a colhereiros e outras espécies. O lugar tem uma vegetação típica de áreas alagadas, propiciando abrigo para esses animais. E lá tenho a chance de registrar alguns exemplares da espécie jacaré-do-pantanal (Caiman yacare) de todas as idades.
Alguns dados interessantes da espécie: o jacaré-do-pantanal, ou jacaré-do-paraguai, habita a parte central da América do Sul, incluindo o norte da Argentina, o sul da Bolívia e Centro-Oeste do Brasil, especialmente o Pantanal e rios do Paraguai. Mede entre dois a três metros de comprimento e seu padrão de coloração é bastante variado, sendo o dorso particularmente escuro com faixas transversais amarelas, principalmente na região da cauda. Mesmo com a boca fechada, deixa ver muitos dentes, o que o faz ser chamado também de jacaré-piranha.
A sua dieta consiste principalmente por peixes, moluscos e crustáceos. Suas fezes servem de alimento para muitos peixes. Os jacarés são ovíparos. A fêmea põe, em média, entre 20 e 30 ovos. Eles se desenvolvem ao calor do sol e da vegetação que normalmente compõe o ninho (feito à base de folhas e fragmentos de plantas, na mata ou sobre vegetação flutuante). A mãe raramente se afasta do lugar, que normalmente defende com fúria. A reprodução acontece entre os meses de janeiro e março, coincidentemente com período das cheias no Pantanal.
A sua importância no controle ecológico de outras espécies é real: se alimentam de indivíduos mais fracos, velhos ou doentes, fazendo instintivamente uma seleção natural. Também comem caramujos, matando o transmissor de doenças como a esquistossomose (barriga d’água).
Bicho que merece respeito e admiração! Sem contar que é uma espécie magnífica no quesito “fotos artísticas”, pois são muito fotogênicos. Consegui registros muito bacanas de detalhes do bicho, e foi difícil escolher apenas três para utilizar aqui no artigo.
A aproximação é bastante calma, sempre lembrando de respeitar uma distância segura, pois são animais muito rápidos na hora do ataque. Porém, em terra, geralmente fogem ao sentirem-se ameaçados. Segurança em primeiro lugar. Sempre!
Mas vamos lá! Segue a primeira imagem e descrição de como foi feita:
Bom, aqui eu quis capturar o detalhe da “mão” do cidadão, que foi o maior exemplar que eu já registrei até hoje dessa espécie. Devia ter quase três metros de comprimento e era muito gordo! Dá uma olhada no tamanho da “criança” na foto abaixo:
As configurações para a primeira imagem são as seguintes: F/5.6, 300mm, 1/400s, ISO 640. Abertura maior possível para mais captação de luz dentro do que a lente permite, compensação de ISO para melhor ajuste de luminosidade (já que o detalhe da mão estava em área de sombra), distância focal em 300mm (estava bem perto do cidadão) e velocidade normal. E a “mãozinha” foi eternizada. Lembrando que a aproximação foi feita seguindo sempre o conceito etológico de fuga, que preconiza a velocidade de reação e ataque de toda espécie animal.
Acho que a imagem acima fala por si. Quis captar todo o primitivismo que a espécie representa e tentei isso nessa captura. Estava na área do Lago do Amor. Um calor de “arrancar o pica-pau do oco”, como dizem os pantaneiros. Eu estava a pé, margeando calmamente os barrancos em busca de aves e outros bichos. De repente, esse bocão na minha frente! Que cena linda! Fazendo jus ao apelido de “jacaré-piranha”, com a dentição bem à mostra. Jacarés abrem suas bocas para se aquecer, já que a pele da boca, que é fina e rica em vasos sanguíneos, absorve o calor com mais rapidez e eficiência. Como o jacaré fica ao sol para absorver calor, com a boca aberta faz esse trabalho mais rápido e retém o calor com grande eficiência.
Tirando a emoção do encontro, vamos ao que interessa: as configurações. Foram as seguintes: abertura em f/6.3 para “quebrar” o reflexo do sol no focinho do bicho, velocidade em 1/800s, distância focal 500mm, luminosidade em ISO 100. E voilá! Bocão registrado. Pena que fotografia não tem som, pois o rugido do bicho quando cheguei perto foi de arrepiar!
E chegamos na última foto.
Era mais um dia se encerrando na Cidade Morena. Andando pelas estradas rurais, próximo a um dos mananciais que abastecem o município (APA do Lageado), fiz esse registro. A luz favoreceu a riqueza de texturas e cores, dando tridimensionalidade à imagem. O resto são apenas detalhes técnicos de configuração, que culminaram nessa captura. Segue: abertura em f/6, velocidade em 1/320s, luminosidade ISO 160 e distância focal de 350mm. O detalhe da textura das escamas do couro do animal foi ressaltado pelo uso do preto e branco na hora da captura da imagem.
E assim finalizo mais este artigo. Espero que tenha gostado!
No próximo, vou trazer um pouco da experiência de fotografar uma das espécies de primatas que eu mais gosto: os macacos-prego.
Até lá!
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