Por Kamila Bandeira
Bióloga com mestrado e doutorado em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É pesquisadora do Museu Nacional da UFRJ e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Suas pesquisas estão focadas em Paleontologia de vertebrados
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Olá pessoal! Eu sou a Kamila Bandeira e estou assumindo a coluna Túnel do tempo no lugar da Lucy Gomes de Souza. E hoje irei falar sobre um vertebrado fóssil muito bacana, o Nyctosaurus lamegoi, o primeiro pterossauro descrito para o Brasil.
Os pterossauros foram répteis voadores que viveram na mesma época dos dinossauros, na era Mesozóica (230 a 65 milhões de anos atrás). Inclusive, muitas vezes são confundidos com dinossauros, sendo chamados popularmente de “dinossauros voadores”. Apesar de serem parentes distantes, pterossauros e dinossauros pertencem a grupos distintos. Na imagem A está um cladograma, ou seja, uma representação do parentesco evolutivo entre os organismos, mostrando essa relação entre dinossauros e pterossauros.
Os pterossauros são os primeiros vertebrados conhecidos por terem evoluído o voo ativo, que é o tipo de voo em que o animal usa os músculos para produzir sustentação e impulso, sem depender exclusivamente da força do ar, como os animais planadores fazem. As asas dos pterossauros eram formadas por uma membrana de pele, músculo e outros tecidos que se estendiam dos tornozelos até o quarto dedo da mão, que era bastante alongado e sustentava a asa (imagem B).
O Nyctosaurus lamegoi é baseado em um único osso, o úmero. Descrito e nomeado em 1953 pelo paleontólogo brasileiro Llewellyn Ivor Price, o Nyctosaurus lamegoi possui número de registro DGM 238-R e foi encontrado na Paraíba, na margem direita do rio Gramame.
Um fato interessante é que o gênero Nyctosaurus foi descrito em 1876 pelo paleontólogo americano Othniel Charles Marsh, baseando-se num fóssil de pterossauro incompleto encontrado num sítio próximo ao rio Smoky Hill, no Kansas. Price, ao notar similaridades entre os ossos do Nyctosaurus americano e o material brasileiro, atribuiu o exemplar brasileiro então a esse mesmo gênero. Porém, o nome específico da espécie brasileira (lamegoi) homenageia o geólogo Alberto Ribeiro Lamego, um importante estudioso da geografia e da geologia brasileira, especialmente do estado do Rio de Janeiro.
Embora alguns autores tenham contestado o pertencimento da espécie brasileira ao gênero novo (ou seja, a espécie em si pertenceria a um gênero totalmente novo), um estudo de 2018 indicou que o Nyctosaurus lamegoi é mais próximo evolutivamente de uma espécie do Marrocos chamada Barbaridactylus grandis. Novos estudos ainda precisam ser realizados para comprovar essa hipótese de parentesco entre as espécies, e se o pterossauro brasileiro pertence realmente ao gênero Barbaridactylus.
O Nyctosaurus lamegoi, apesar de ser uma espécie bastante incompleta, tem uma envergadura estimada em quatro metros. Essa estimativa é feita através de comparações com outras espécies aparentadas mais completas, como o “primo” mais conhecido, o Pteranodon e o próprio Nyctosaurus original. Por fim, uma das características mais peculiares do Nyctosaurus (e que talvez estivesse também presente na espécie brasileira) é a longa crista que forma de Y, que possui quase que o comprimento total do corpo. Essa crista até hoje está presente em debates entre os paleontólogos: não se sabe ainda se ela teria uma pele recobrindo, podendo atuar assim como uma vela de um barco, ou se ela simplesmente seria exposta, como os chifres dos veados e cervos.
– Price L.I.1953. A presença de Pterosauria no Cretáceo Superior do Estado da Paraíba. Notas Preliminares e Estudos, Divisão de Geologia e Mineralogia, Brasil (71): 1–10.
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