Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Em 24 de agosto, o Fauna News noticiou três de casos apreensões de aves silvestres Na Bahia, em Alagoas e em São Paulo. As informações fornecidas pelos policiais indicavam que, somando a quantidade de aves encontradas nas ocorrências, 1.490 foram resgatados de traficantes de fauna. O desenrolar dos fatos faz com que o ocorrido em Alagoas mereça atenção.
Na matéria “1.490 aves apreendidas em ações policiais na BA, AL e SP”, o Fauna News publicou que 550 aves foram encontradas dentro de um carro por uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na altura do km 205 da BR-101, em São Sebastião. O homem que foi detido teria informado que recebeu R$ 500,00 para transportas as aves de Feira de Santana (BA) até Maceió (AL). Ele já havia sido flagrado em 19 de julho de 2019 com 700 pássaros em Cristinápolis (SE).
A PRF encaminhou as aves para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama em Maceió, onde foi feita a contagem cuidadosa dos animais e constatou-se que eram 850 pássaros. De acordo com o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), que mantém uma parceria com o órgão ambiental federal na gestão do Cetas, até 120 aves foram encontradas amontoadas em pequenas caixas com dimensão de 70 centímetros de comprimento por 50 centímetros de largura e 10 centímetros de altura.
Entre a apreensão, onde havia alguns pássaros já mortos, e a soltura dos que foram atendidos no Cetas, realizada em 2 de setembro, 393 morreram. Ou seja, 46% dos animais apreendidos não sobreviveram.
“A apreensão de cerca de 850 pássaros pela Polícia Federal Rodoviária (PRF), em agosto, acabou em soltura na última quinta-feira (2), realizada pelo Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis Naturais (Ibama). No entanto, a felicidade de voltar à natureza não foi para todos. 393 pássaros morreram antes de serem soltos. A informação é do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas).
“Quando a apreensão vem do tráfico, é muito difícil evitar o óbito”, afirma Ana Cecília, veterinária do IMA alocada no Cetas. “Os traficantes transportam os animais em condição completamente negligente. Caixas muito pequenas com até 120 animais, sem poleiro, sem espaço para voar. Estressados e amontoados, eles pouco se alimentam e quando acontece, é com comida jogada e misturada as fezes. Não tem água”, detalha.
Entre os óbitos registrados, foram 119 caboclinhos, 115 papa-capins, 114 canários-da-terra, 43 papa-capins-de-coleira (não nativos de Alagoas) e duas patativas. Esses números refletem a gravidade do tráfico de animais que abastece feiras e estabelecimentos.
“O Cetas recebe muitos animais em maus tratos, mas os que vêm do tráfico são os casos mais chocantes. Chegam mortos ou debilitados, sujos de fezes e muito estressados”, relata Ana. “Colocamos eles em lugares de poleiros naturais, com muita comida de boa qualidade, polivitamínico na água e limpeza do viveiro todos os dias”, conclui. Ainda assim, houve casos de pássaros que precisaram retornar da soltura, pois se mostraram fracos, sem conseguir voar.” – trecho da matéria de divulgação do IMA “Centenas de pássaros vítimas de tráficos morrem antes de soltura”, publicada no site da instituição
Os números escancaram um mercado cruel, em que o poder público ainda se mostra incompetente para combater. Em todo o Brasil, não se investe em educação ambiental para reduzir a demanda, ainda acham que somente ações de fiscalização e repressão serão suficientes para inibir traficantes de fauna (que conhecem muito bem a legislação fraca, incapaz de gerar punições exemplares) e o sistema de atendimento dos animais apreendidos está repleto de deficiências.
Seria leviano, neste espaço, fazer qualquer questionamento sobre o atendimento oferecido aos animais pelo Cetas para tentar explicar os 46% de óbitos. É fato que, muitas vezes, é impossível reverter o mal cometido pelos traficantes de fauna e muitas mortes acontecem após as apreensões, já durante os esforços de veterinários e biólogos. Entretanto, chama também a atenção a informação de que seis pássaros morreram durante o trajeto entre o centro a área de soltura.
O poder público deveria investir muito nos centros de triagem e de reabilitação. Os gastos com infraestrutura e equipes, que, em geral, trabalham no limite de suas capacidades, são garantias de um retorno dos animais atendidos com mais segurança à vida livre.